CORPO-DELITO NA SALA DOS ESPELHOS

1.ª edição
Lisboa,
1980
Moraes
158, [1]
págs.

Prefácio de Eduardo Lourenço. Fotografias de Eduardo Gageiro.

No notável texto de abertura, afirma Eduardo Lourenço: «[...] Sob o desfile unanimista do 1.º de Maio de 1974, quem tivesse colado o ouvido ao asfalto de onde o rumor exaltante subia, teria surpreendido um silêncio singular. Escutando melhor, teria percebido até que esse universal rumor era quase só esse silêncio, com cinquenta anos de espessura, antigo silêncio dissolvido na alegria do presente como açúcar. Num só dia, a bondade dos nossos costumes apagara os gritos estrangulados de meio século, os cadáveres escamoteados, as noites sem pálpebras, a vergonha de ter um rosto de homem numa paisagem deserta de olhos para aceitar com a naturalidade do nascer do sol e da luz do dia. Todavia, por essa hora, se havia esperado-desesperado para saber, sobretudo para proclamar, enfim, a Verdade, ou antes, a sua atroz inversão. Os surdos voluntários, os cegos de olhos extasiados, os executores da sombra, os peritos em terror seráfico, os caluniadores impunes seriam então tardiamente iluminados pela revelação da sua inumanidade cultivada, envergada como um fato de domingo para a glória e honra da antiquíssima, venerável e santa Ordem Moral. [...] Sem dúvida que Cardoso Pires desejou evitar a exploração teatral do tema da “tortura” e da “confissão”, como se desinteressou também do laço dialéctico tão glosado entre “vítima” e “carrasco”. É simbolicamente que a vítima ocupa o centro da cena e nunca como parceiro de um jogo trágico. É a sua situação que se recorta numa luz de sofrimento ou obstinada resistência, como um dado aceite pelo sujeito deles e o funcionário da máquina anónima do terror de Estado. Na realidade a única questão que preocupa Cardoso Pires em Corpo-Delito não é a da tortura, nem das relações sadomasoquistas tantas vezes descritas entre o carrasco e a vítima, mas a da inscrição do delito na realidade-corpo-alma do sujeito dele. Cardoso Pires tem razão ao recusar para a sua peça a conotação “política” que acode imediatamente ao espírito dada a sua temática. O universo é o da Pide e os seus fantasmas, o momento o da Revolução que chega para perturbar o mecanismo perfeito e “natural” da repressão, mas não é enquanto mecânica diabólica e perversa que eles interessam Cardoso Pires nem mesmo enquanto microcosmo patológico de um Regime totalitário. A Pide e o seu cenário interessam-no como lugar superlativo de uma representação que pertence à essência da realidade social. Não é um microcosmo, é um macrocosmo. No limite, é o Macrocosmo.

De quê? De uma sociedade de reflexos [...].»

Antes da publicação do livro, o texto foi levado à cena, em 24 de Maio de 1979, no Teatro Aberto, pelo Grupo 4, com encenação de Fernando Gusmão, cenário e direção plástica de Luís Suarez.


Elenco de 1979:

Adelaide Ferreira
Alexandre Melo
António Anjos
António Montez
António Rama
Carlos Gonçalves
Carlos Santos
Helena Isabel
Lia Gama
Linda Silva
Manuel Mendonça
Mário Jacques
Morais e Castro
Rui Mendes
Vasconcelos Viana

 

 

     
 
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Teatro: sucedem-se as estreias.
Diário de Notícias. Sup. Caderno Sábado
19 Maio 1979, p. 3


Publicidade.
Diário Popular
23 Maio 1979, p. 15
     
     
 

Publicidade.
Diário de Lisboa
24 Maio 1979, p. 19


Roteiro cultural.
Diário de Lisboa
24 Maio 1979, p. 22
     
     
 

As estreias da semana.
Diário de Lisboa. Sup. 7.7
25 Maio 1979, p. 7


Publicidade.
Diário de Lisboa. Sup. 7.7
25 Maio 1979, p. 6
     
     
 

Roteiro cultural.
Diário de Lisboa
25 Maio 1979, p. 18


Teatro: Estreias e êxitos em cena.
Diário de Notícias. Sup. Caderno Sábado
26 Maio 1979, p. 3
     
     
 

Publicidade.
Diário Popular
26 Maio 1979, p. 28


Delito-quase.
Por Orlando Neves
Expresso. Revista
2 Junho 1979, p. 30R
     
     
 

Lançamento.
Diário de Lisboa
11 Dezembro 1980, p. 3


No lançamento de "Corpo-Delito na Sala dos Espelhos": "O que
pretendi foi lançar um aviso", afirma José Cardoso Pires.
Diário de Lisboa
12 Dezembro 1980, p. 20
     
     
 

Espelho sem reflexo.
Por Eduardo Lourenço
Diário Popular. Sup. Letras e Artes
18 Dezembro 1980, pp. 1, 3


José Cardoso Pires: "Escrever é uma meditação e uma
descoberta de mim próprio".
Entrevista por Mário Ventura
Diário de Notícias
1 Fevereiro 1981, pp. 1, 7-8
 
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