A Grande Guerra alcançou, desde a sua eclosão em julho de 1914, grande visibilidade na maioria dos jornais e revistas da época. A generalidade desses periódicos alinhou posição com a corrente que defendia a intervenção de Portugal no conflito, ainda que com diferentes níveis de entusiasmo. Essa corrente belicista foi liderada por Afonso Costa e o partido democrático, e corporizou uma estratégia para construir o consenso político que ainda não conseguira reunir. O argumento da defesa das colónias africanas da “gula” da Alemanha constitui o eixo dessa estratégia de concertação e, durante algum tempo, revelou-se muito eficaz. De fato, perante os avanços militares alemães registados naqueles territórios, que obrigaram o país a assumir a sua defesa bélica, e do conhecimento público de que a nossa aliada Inglaterra, não havia muito tempo, negociara com os alemães a sua divisão, Portugal parecia não ter alternativa: se quisesse salvaguardar o império teria de participar na Grande Guerra, ao lado dos aliados. A posição beligerante impôs-se, pois, de forma imperiosa. Foram raras as forças partidárias que a ela se opuseram frontalmente. Nem mesmo os monárquicos, que optaram por manter fidelidade a Inglaterra. Apenas o partido “pimentista” e outras fações conservadoras, bem como os movimentos sindical e anarquista, fizeram campanha contra a intervenção de Portugal e imediatamente foram apodados de germanófilos, traidores da pátria e da memória dos militares já sacrificados em África e alheios aos interesses da nação.

Esta consensualidade temporária refletiu-se, portanto, na generalidade dos jornais e das revistas, quer na fase da mobilização da opinião pública a favor do esforço beligerante do país, quer durante a preparação e a intervenção do Corpo Expedicionário Português na Flandres.

Apesar dessa consensualidade que, de certa forma, harmonizou temporariamente o discurso jornalístico sobre a guerra europeia pela bitola nacionalista e heróica, a imprensa constitui uma fonte incontornável para o seu estudo e compreensão, ainda que outros registos - designadamente o documentário cinematográfico - tenham permitido "cobrir" a guerra com uma sensação de realismo e proximidade sem precedentes. Por razão dos avanços tecnológicos registados no sector das comunicações e dos transportes, a informação corria agora mais célere e intensa, alterando significativamente o conceito de atualidade e até o da distância. O mundo tornou-se, sem dúvida, mais pequeno e, simultaneamente, mais palpável, tangível e diverso. Importa ainda sublinhar o papel dos «repórteres de guerra», enviados com a missão de auscultar e também fotografar os que combatiam na Flandres.

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