col. Hemeroteca Municipal de Lisboa

MIAU! (Porto: 21 de janeiro a 26 de maio de 1916). Publicado em ano decisivo do conflito, 1916, o semanário humorístico dá grande destaque à I Guerra Mundial. Como refere Rita Correia no texto que lhe dedicou, “a Grande Guerra que assolava a Europa desde julho de 1914 é, sem dúvida, o tema que alcança maior visibilidade nas páginas do Miau! Desde logo, porque ocupa, invariavelmente, as suas duas páginas nobres – a primeira e a última –, a maioria das vezes, ocupadas exclusivamente por ilustrações e, por isso, as únicas que são coloridas”.

Portanto, o Miau! é sem dúvida uma fonte preciosa para perceber a forma como o cartoon e a caricatura nacional e estrangeira (a colaboração europeia é muito significativa) rececionou o impacto da guerra sobre a sociedade e a opinião pública portuguesa. Tem ainda uma relevância acrescida para o estudo da história da arte, e concretamente da história do jornalismo humorístico europeu e nacional, dado que o “deflagrar da guerra motivou o regresso, mais ou menos apressado, de muitos artistas nacionais, mas não apagou as relações de amizade, ou simplesmente artístico-profissionais, entretanto tecidas. Pelo contrário, todos os que repudiavam o império alemão e os seus aliados sentiam-se próximos e empenhados na luta contra o inimigo comum”. Ora, no Miau! vamos precisamente encontrar um forte testemunho dessa teia de amizades entre cartoonistas nacionais e europeus, unidos não só no ódio ao “militarismo alemão”, mas também no tipo de humor e no traço modernista: Leal da Câmara, Manuel Monterroso, Christiano de Carvalho, os cartoonistas nacionais de serviço mais profícuos, e Steinlen, Raemaekers, Gulbransson, entre outros estrangeiros.

A par dos desenhos, predominam as notícias, crónicas e comentários relacionados com a guerra, onde é notório, neste caso, um alinhamento com aqueles que defendiam a entrada de Portugal no conflito (é mesmo visível um patriotismo exacerbado sobre a participação portuguesa), o enaltecimento das forças da Tríplice Aliança e a diabolização da Alemanha, quase sempre figurada no Kaiser Guilherme II (não raras vezes, em cartoons bastante truculentos). Temos um número, o 3, dedicado à guerra, secções de grande utilidade, como “Livros recebidos e muito agradecidos”, que nos permitem conhecer alguma da bibliografia então publicada sobre a guerra (por exemplo, Europa em Guerra, de Agostinho de Campos), e crónicas de costumes (Aquilino Ribeiro, Gomes Oliveira e André Brun) que nos ajudam a compreender melhor certas questões sociais resultantes da guerra, como o novo papel que a mulher passará a assumir na sociedade. Para saber mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a ficha histórica.

Álvaro Costa de Matos | Lisboa, HML, julho de 2014