col. Biblioteca-Museu República e Resistência

O THALASSA : semanário humorístico e de caricaturas (Lisboa: 6 de março de 1913 a 7 de maio de 1915). Os assuntos relacionados com a guerra, ou tendo como pano de fundo as causas que levaram à entrada de Portugal no conflito, começam a aparecer nas páginas d’O Thalassa no início de 1914. Com efeito, os desenhos alusivos à cobiça das colónias portuguesas (Angola e Moçambique, sobretudo) pela Alemanha e Inglaterra surgem com alguma frequência a partir de fevereiro daquele ano, na sua maior parte feitos por Jorge Colaço, um dos fundadores e o principal cartoonista do semanário humorístico. É o caso, por exemplo, de “Despedida na «gare» da cordialidade”, publicado a 1 de maio de 1914, onde é comicamente retratada a partida das colónias de Angola e Moçambique no “Tanganica Express”, num desenho acompanhado de excerto com notícia do jornal Temps: “(…) os gabinetes de Berlim e Londres em breve concluirão as negociações entabuladas com o fim de regular o problema da exploração económica das colónias portuguesas de África”. A rematar, um Zé Povinho desesperado com o destino das ditas: “Ai! Que lá se vão as pequenas…”.

A par dos desenhos, temos também alguns textos sobre a “alienação das nossas colónias”, seja numa prosa mais humorística, seja num registo mais sério, da autoria de Severim de Azevedo (Chrispim), outro dos fundadores d’O Thalassa e o seu principal redator. O teor da escrita é muito crítico da política republicana, e o redator não perde a oportunidade para zurzir na sua diplomacia, acusada de “falta de tacto administrativo” e de “incompetência”. As colónias são quase dadas como perdidas, e dos republicanos já não se deve esperar a “salvação do resto do nosso património colonial”, “em leilão” segundo Severim de Azevedo.

Há um número inteiramente dedicado à guerra, o 73, de 13 de agosto de 1914
, com editorial relevante: o envolvimento de Portugal no conflito europeu devido “a secular aliança que nos liga à Inglaterra”, a simpatia “contra a agressão provocadora (…) da Alemanha”, e a curiosa proposta de formação de uma “ministério nacional, que, pelas suas figuras, se impusesse cá dentro e lá fora”, com integração natural dos monárquicos, cuja bandeira era acerrimamente defendida pel’O Thalassa. Passamos a ter, a partir daqui, muitos desenhos humorísticos sobre a guerra, sempre num tom cáustico, bem como algumas secções específicas, como “Reportagem da guerra”, com fotografias. De referir, por último, o apelo que é feito aos monárquicos para que durante a guerra dessem “tréguas na luta interna para que se não diga que criámos dificuldades de qualquer ordem ao governo”, por um lado, e a crítica feroz à concentração excecional de poderes no poder executivo, por outro: “Nunca, por princípio algum, as oposições, que devem representar sempre uma força fiscalizadora, deviam ter consentido (quanto mais aprovado!) o decreto que tornou o governo poder absoluto por tem ilimitado e sem qualquer restrição.” Para saber mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a ficha histórica que lhe dedicámos.

Álvaro Costa de Matos | Lisboa, HML, julho de 2014