Recortes de imprensa:

"«Os Versos Satânicos»: editoras buscam soluções. Rushdie (aterrorizado) recorre à plástica". Diário de Lisboa, 17 Fevereiro 1989, p. 26.

"Fora do mercado: Os editores vacilam, hesitam, dão explicações que convencem pouco. Alguns mostram coragem", por Luís Coelho. O Independente, 24 Fevereiro 1989, p. 17.

"«Os Versículos Satânicos» na Dom Quixote". JL: jornal de Letras, Artes e Ideias, 7 Março 1989, p. 2.

"As moções aprovadas". JL: jornal de Letras, Artes e Ideias, 7 Março 1989, pp. 10-11.


 

OS VERSÍCULOS SATÂNICOS
Salman Rushdie

Outro alvo de alguma pressão por parte da imprensa portuguesa foi a Publicações Dom Quixote, a editora que tinha publicado os 4 livros anteriores de Salman Rushdie. Logo que se soube da fatwa, os jornalistas bateram-lhe à porta para saber se já tinha tomado alguma decisão sobre o novo romance. Não, "por ora, nenhuma decisão foi tomada", foi a resposta que o editor Manuel Alberto Valente deu à Lusa, segundo um artigo do Diário de Lisboa, de 17 de Fevereiro. Mas o editor também admitiu que a Dom Quixote corria o risco de ser ultrapassada por outra editora portuguesa, se prolongasse demasiado o "compasso de espera".

Ora, se o segredo é a alma do negócio, a rapidez não lhe fica atrás, pelo pouco tempo depois, através de um "comunicado distribuído a alguns jornais", a Dom Quixote anunciou a publicação da versão portuguesa do romance The Satanic Verses, embora não indicando nenhuma data. A notícia foi avançada pelo Jornal de Letras de 7 de Março. No contexto de alarde provocado pela fatwa e pelo fluxo quase diário de notícias sobre o braço de ferro entre o poder político religioso do Irão e os governos ocidentais, a violência praticada pelos fundamentalistas e as hesitações de muitas editoras, há que reconhecer o desassombro dos editores do Dom Quixote.

A sua comunicação serviu ainda para esclarecer que nunca equacionara aquela questão "em termos de mera oportunidade" - de lucro fácil, subentenda-se -, e que as negociações com a editora inglesa tinham sido iniciadas muito antes daquela crise, "nomeadamente no decorrer da última feira de Frankfurt, Outubro de 1988". E também para fazer alguns reparos à Imprensa que, acusa, "tão ávida de temas que de algum modo possam alimentar a sua falta de imaginação – começou por não entender a necessária prudência das escassas declarações até agora transmitidas por representantes da Editora. Não é isto correcto, não é rigoroso, não é profissional, e este assunto (…) exige de todos nós o máximo de rigor e atenção, não se compadecendo portanto com especulações mais ou menos oportunistas e incompetentes."

Naquela mesma edição, o Jornal de Letras, deu a conhecer a moção aprovada no I Congresso dos Escritores de Língua Portuguesa – reunido de 1 e 3 de Março, na Fundação Gulbenkian, Lisboa –  sobre o “caso Rushdie”, onde se reafirma "o seu intransigente comprometimento na preservação dos valores da tolerância e liberdade" e "a sua indignação pela intolerável ameaça de assassínio do escritor".

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