col. Biblioteca Museu República e Resistência

Alberto Mário de Sousa Costa (1879 -1961) é o autor desta conferência proferida na Caixa de Auxílio a Estudantes Pobres do Sexo Feminino, para quem revertia também o lucro da venda do opúsculo. Sousa Costa, licenciado em Direito por Coimbra, exerceu diversos cargos em organismos públicos destacando-se a sua colaboração na redação do decreto que deu origem à Tutoria Central da Infância (Lisboa e Porto), tribunal criado para abranger, como se afirma no próprio decreto “as crianças em perigo moral, as crianças desamparadas e as crianças delinquentes (…) sob a divisa educação e trabalho”. Corresponderia, grosso modo, aos atuais Tribunais de Família e Menores. Para além da sua vida como jurista, Sousa Costa foi um prolífico escritor abarcando géneros como o teatro, o romance, o conto, o ensaio ou ainda a colaboração em jornais nacionais e estrangeiros, nomeadamente O Primeiro de Janeiro, Diário de Notícias, Ilustração Portuguesa, La Prensa (de Buenos Aires) e o Notícias (de Moçambique). Como escritor, pertenceu a várias instituições, nomeadamente a Academia das Ciências, a Sociedade Martins Sarmento e o Instituto de Coimbra.

Por sua vez, sua mulher, a também escritora (e professora na Tutoria da Infância) Emília de Sousa Costa, foi uma das fundadoras, em 1912, da Caixa de Auxílio a Estudantes Pobres do Sexo Feminino, instituição que se dedicava à instrução primária de raparigas sem meios. Eventualmente, terá sido a pedido de sua mulher que Sousa Costa fez esta conferência, intitulada “A Mulher vítima da Guerra” cerca de dois meses depois da declaração de guerra da Alemanha ao nosso país. Nela, o autor começa por afirmar que vem apenas contar casos de guerra, o que de facto faz ao relatar vários episódios de violência contra as mulheres, ocorridos numa guerra que já se previa mais longa do que inicialmente se pensava. Mas acima de tudo, Alberto Sousa Costa incita as mulheres a manterem-se fortes e a combaterem, avisando porém, que “Tornarem-se combatentes, não é, claro, tornarem-se soldados”. Aliás, longe da ideia do autor enviar as mulheres para a “sangueria da hecatombe”. Outra forma de combate é manter o ânimo, fortalecer o próximo – no fundo, ser o apoio na retaguarda, o esteio do lar, a formadora das crianças e o amparo dos idosos. Mas acompanhando os tempos, e sabendo como na Europa em guerra, já há dois anos, as mulheres tinham vindo a assumir o lugar dos homens na retaguarda impele-as: “ É preciso que nas secretarias ou nas fábricas, nas ambulâncias ou nos escritórios de comércio, onde quer que vos chamem, sejais as primeiras no esforço e na serenidade”. É pois uma conferência destinada, por um lado, a prevenir as mulheres para os duros tempos que se avizinhavam, e, por outro, a incutir-lhes ânimo reforçando a importância do seu papel na retaguarda apresentando-as não apenas como vítimas mas também como agentes fundamentais do esforço nacional.

Ana Homem de Melo | Lisboa, GEO, abril 2016