col. Hemeroteca Municipal de Lisboa
 

Revista militar (Lisboa, desde Janeiro,1849),que disponibilizamos na cronologia 1914-1922, foi uma das primeiras publicações periódicas militares portuguesas de que há memória e a mais duradoura que já alguma vez se publicou em Portugal e talvez no mundo. Ainda hoje se publica, guiada pelo mesmo espírito e objetivo definido pelos seus fundadores: «(…) uma publicação periódica litteraria, onde os indivíduos, que exercitam qualquer especialidade n’esta grande classe, possam acompanhar, passo a passo, todos os melhoramentos e progressos, que as artes e as sciencias fazem todos os dias nos variadíssimos ramos que lhes dizem respeito.» - assim foi definida por Fontes Pereira de Melo, à data tenente de engenharia, no editorial-programa, publicado no n.º 1. Ao que parece, Fontes Pereira de Melo esteve na génese do projeto, que desde 1846 o acompanhava e era objeto de conversa com outros militares. O núcleo fundador acabou por reunir 26 oficiais, que foram os signatários do “registo de nascimento” da Revista Militar, um contrato firmado no dia 1 de Dezembro de 1848, na Casa da Travessa do Secretariado da Guerra, n.º 40 1.º andar (atual Rua Nova da Trindade, n.º 6). O documento define, em 23 artigos, aspetos como a periodicidade, o formato, o programa e a própria orgânica da redação e da administração. Ficou desde logo prevista a possibilidade de publicar «artigos ou memorias de quaesquer pessoas estranhas, se tratarem de objectos da competência do jornal», o que lhe conferia uma natureza aberta; e «excluida toda a matéria religiosa ou política, assim como alusões a pessoas». Importa ainda referir que a Revista Militar se encontra digitalizada e acessível no portal da Biblioteca do Exercito. Também existe na Hemeroteca, mas incompleta.

Nos anos da Grande Guerra (1914-19), a direção da Revista Militar foi presidida pelo general de divisão José Estevão Moraes Sarmento. O conflito militar mereceu toda a atenção da revista, pode dizer-se que se tornou o tema preponderante, sobretudo a partir do momento em que a Alemanha declarou guerra a Portugal, em Março de 1916. Essa abordagem ficou plasmada numa grande variedade de textos, redigidos por um vasto leque de colaboradores − muitas vezes eivados de menções patrióticas, mas completamente alheios às querelas político-partidárias que agitavam o país – e também reproduzidos a partir da imprensa estrangeira. O conjunto inclui desde reflexões mais gerais e filosóficas sobre o que lança os povos para a guerra e o que conduziu ao conflito presente em concreto, e como se constrói a paz; questões de ética, justiça e até de cultura; textos informativos e noticiosos sobre a organização militar nos diferentes países e sobre os confrontos em curso; a evolução do armamento, da logística, da tática e da estratégica; e também textos de história militar, biografias, bibliografia, etc., etc.

No que toca à participação portuguesa na Grande Guerra, e assumindo a impossibilidade de refletir a diversidade de matérias e abordagens que a publicação encerra, destaca-se: «O factor moral no êxito da guerra», do tenente coronel de engenharia, Frederico Oom (n.º 1, 1917); «Corpo expedicionário português. Rol de Honra», onde foram sendo publicados os nomes dos soldados portugueses mortos ou feridos em França (a partir do n.º 7, 1917); «Episodios da Guerra Actual. O Esfôrço Português», pelo General Moraes Sarmento (n.º 11, 1917); «O nosso esforço militar em África», por E. Barbosa (n.º 12/1917-n.º 3, 1918); «Um Ano de Guerra», de Teixeira Botelho, coronel de artilharia (n.º 2, 1918); «Quadro de Honra do Ultramar Português» (a partir do n.º 4, 1918); «O pais e o exercito no actual momento», de Melo e Athayde (n.º 5, 1918); «Episodios da Guerra Actual. O ataque alemão ao sector português, na batalha do Lys», pelo General Moraes Sarmento (n.º 8 e 9, 1918), «As Causas Eficientes da Terminação da Guerra e a Preparação da Paz Geral», pelo general Morais Sarmento e «Portugal e a Paz», pelo coronel Teixeira Botelho (n.º 12, 1918).

Rita Correia | Lisboa, HML, abril de 2016