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col.
Hemeroteca Municipal de Lisboa |
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ATLÂNTIDA: mensário artístico, literário e social para Portugal
e Brasil
(Lisboa/Rio de Janeiro, 1915-1920). Não tendo natureza
noticiosa, Atlântida refletiu a Grande Guerra através
da caução intelectual, doutrinária e literária à participação
luso-brasileira no conflito, causa que denodadamente defendeu.
Logo no “Prospeto” que abria a publicação se dava como
justificação para um mensário transatlântico o facto de que «as
circunstâncias especialíssimas criadas pela guerra europeia,
determinaram um irresistível movimento de solidariedade entre
aqueles países e aqueles povos que vivem dum mesmo ideal, que se
alimentam da mesma tradição ou que descendem do mesmo tronco
originário». De facto, nas suas páginas tanto se saudou a
entrada de Portugal na guerra (v. g., suplemento ao n.º 5, e “Ao
Exército Português”, n.º 16), como se apoiou a iniciativa de
Olavo Bilac de promover o serviço militar obrigatório no Brasil
(“A Campanha patriótica de Olavo Bilac”, n.º 12, e “O Movimento patrótico”, n.º 14), aplaudiu-se a rutura diplomática entre este
país e a Alemanha (n.º 18) e celebrou-se a sua participação no
conflito (n.º 25).
Em termos estritamente nacionais,
Atlântida manteve três eixos editoriais principais em
relação à guerra: — 1) a justificação orgânica, moral,
alicerçada em bases anímicas de alcance épico para a
participação portuguesa no teatro bélico (v. artigos de Jaime
Cortesão, n.º 7; Lopes de Oliveira, n.º 8; Leonardo Coimbra, n.º
18; Henrique Lopes de Mendonça, n.º 20; Emílio Costa, n.º 22;
José de Campos Pereira e Eduardo de Noronha, n.º 23; Teófilo
Braga, n.º 25;
J. A. de Bianchi, n.º 31; Guerra Junqueiro, n.º 33-34; Graça
Aranha, n.º 37; João do Rio, n.º 40); — 2) em reforço do eixo
anterior, a propaganda em torno do sucesso da participação
portuguesa e do prestígio internacional por ela obtido, assente
nas várias entrevistas feitas por João de Barros a responsáveis
político-militares portugueses (Augusto Soares, n.º 6, n.º 11 e
n.º 17; Bernardino Machado, n.º 10 e n.º 25; Norton de Matos,
n.º 10 e n.º 25; Afonso Costa, n.º 11; Leote do Rego, n.º 25) e,
terminado o conflito, nos elogios de responsáveis aliados ao
esforço português (n.º 33-34); — 3) a publicação de testemunhos
de quem estava em zonas de combate (Paulo Osório, n.º 10 e n.º
16; Reinaldo dos Santos, n.º 15; Augusto Casimiro, n.º 18, n.º
22,
n.º 33-34, n.º 42-43 e n.º 46-47; Castro Caldas, n.º 33-34;
Jaime Cortesão, n.º 37).
Merece também realce a publicação de
artigos prospectivos sobre as possibilidades de vitória de um ou
outro campo em conflito, com base na análise logística e
financeira dos contendores (v. artigos de José de Campos
Pereira, n.º 5; José de Macedo e X., n.º 8; F. Penteado, n.º
12), e, terminada a guerra, sobre as vias de evolução da
situação mundial dela decorrente (artigos de Rodrigo
Octávio, n.º 37; Graça Aranha, Francesco Bianco e Domingos
Meneses de Jesus, n.º 38; Emílio Costa, n.º 39 e n.º 44-45; José
de Macedo, n.º 42-43). O n.º 21 teve um suplemento de quatro
páginas inteiramente dedicado à Cruzada das Mulheres Portuguesas
e ao hospital por esta criado, e o n.º 25 foi um número
especial,
«organizado num intuito de propaganda patriótica».
Para saber mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a
respetiva ficha histórica.
Pedro Teixeira Mesquita | Lisboa, HML,
julho de 2014
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