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Hemeroteca Municipal de Lisboa |
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O ALGARVE
(Faro, 1908-[1932]). Semanário dito independente e de carácter
eminentemente regionalista, foi publicado desde a Monarquia,
tomando o título de um outro, este publicado a 9 de outubro de
1897 (número único) em homenagem ao casal real nessa data
chegado a Faro. O semanário O Algarve foi distribuído
ao público algarvio que, aos domingos, podia ver, a espaços,
notícias da Grande Guerra, por entre a discussão sobre o
desenvolvimento da região e as actividades e manifestações
diversas. Foi dirigido pelo advogado Artur Águedo, natural
de Albufeira, até 8 de abril de 1917, data em que este foi
substituído por Luís Mascarenhas, natural de Portimão, com o
estatuto de director-editor. Após a morte deste, em fevereiro de
1920, o lugar foi ocupado pelo funcionário público José Ferreira
da Silva, natural de Loulé e administrador gerente do jornal
desde a sua criação.
São particularmente interessantes os
registos sobre o conflito mundial expressos nas edições última e
primeira de cada ano. Desde logo se dá conta da publicação
História da Guerra Europeia, “realmente digna de ser
recomendada (…), não só por estar habilmente elaborada, mas
também pela [sic] luxo da edição. O tomo, que temos
presente, além de uma linda capa a côres, de optimo efeito,
insere o mapa da fronteira alemã-austro-russa; retratos dos
generais” (27 de dezembro de 1914). No início do ano seguinte,
o periódico dá conta dos tumultos na África Portuguesa,
sob o título “Sangue Portuguez”: “Foi a guerra que veiu [sic]
ao nosso encontro; não fomos nós, portuguezes, que a
provocámos.” (3 de janeiro de 1915). É sabido das súbitas
agressões de tropas alemãs às forças portuguesas destacadas para
Angola para defesa das fronteiras. Essa incursão alemã provocou
a morte e o desaparecimento de oficiais do exército português e
praças, tal como se dá conta nesta publicação. No final desse
ano, noticia-se uma nota do governo austríaco, “anunciando que
vae mobilizar as mulheres para as empregar em trabalhos
militares por detraz da frente da batalha e substituir os homens
mandados para a linha do combate!”. A notícia comenta que é uma
resolução “bem contraproducente”, até porque “as hungaras (…)
são tão bonitas e apetitosas!!” (25 de dezembro de 1915). No
início de um novo ano, o periódico apelida o ano de 1914 como:
“Ano odiado! Ano maldito!” – “A Civilização só lhe deveu um
grande retrocesso! O progresso teve a sua única expressão nas
invenções calamitosas e destruidoras!” (1 de janeiro de 1916). O
último editorial deste ano é significativo quanto ao estado do
mundo, num ano sem tréguas, “ano sem escrúpulos, ano de
horrores, foste mau e bem mau para os homens, vae-te a leva
contigo as maldições que mereceste!”, desejando-se, para 1917,
“auroras de luz, iluminan-lo a liberdade, o direito, o progresso
e a civilização” (31 de dezembro de 1916). No início do ano
seguinte, confiava-se no término da Grande Guerra, onde
“Portugal já tinha sangue precioso de seus filhos derramando na
sangrenta lucta!”, designadamente em África, e em terras de
França foram colocados “grandes núcleos de suas tropas” (7 de
janeiro de 1917). Portugal tinha as suas águas territoriais
desrespeitadas, foi arrastado por turbilhão por força da defesa
do seu território ultramarino e colonial – “a guerra veio ao
nosso encontro, (…) a honra a ela nos ligou (…) a defender a
nossa vitalidade histórica e tal nos demoveu” (7 de janeiro de
1917).
Jorge Mangorrinha | Lisboa, HML, julho de 2014
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