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Hemeroteca Municipal de Lisboa |
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ALMA NOVA: revista ilustrada
(Lisboa, II Série, dezembro 1915 a janeiro 1918). O terceiro
número de março de 1916 abre a sua primeira página com
“O Conflito Europeu: Portugal em Estado de Guerra”, onde
generaliza a sua posição: “um só pensamento deve dominar no
coração de todo o português – a Patria em perigo” e que “só
há um inimigo, poderoso e feroz, - a Alemanha”. Também o seu
subtítulo, no número seguinte de Abril de 1916, é
alargado a “pelo ressurgimento das Artes, Letras, Sciencias e
da Pátria”.
O patriota Mateus Moreno (1892-1970), fundador e diretor
literário da revista, decide frequentar a Escola de Oficiais
Milicianos e é mobilizado em 1917, para o Corpo Expedicionário
Português (CEP) ao lado dos britânicos, na Flandres francesa.
Como “Alferes miliciano de Artilharia de Campanha”, o autor
escreve “De Portugal á
Flandres” (cinco cartas da guerra a cinco companheiros de
lutas)”. Estas cartas, escritas entre 20 de abril e 25 de
agosto de 1917, são publicadas na revista de dezembro de
1917, e endereçadas aos “colegas, amigos e leitores da Alma
Nova” (n.º 21-24, pp. 73-79). Em forma de crónicas
de guerra, as cartas descrevem a partida, a viagem, a
chegada à França e a frente de batalha, tendo o autor como
testemunha. Mantendo o título, Mateus Moreno lança um livro
“com ilustrações", segundo o anúncio publicado nos dois últimos
números da II série da revista. A última carta, intitulada
“V: Ruinas…” retrata a realidade dos combatentes
portugueses: “a poucas centenas de metros, ali mesmo,
nas primeiras linhas da infantaria, atrôam os morteiros
desaforadamente. A paisagem, a luz e o próprio ambiente vestem
um ar de desespero. – O desespero da fadiga […].
Depois de cada habitual sessão de bombardeamento iam-se
espreitar os estragos…– que horror! – Eram
sepulturas enormes onde poderia acoitar-se uma família inteira,
– uma família com todas as habituais alimárias…” (n.º
21-24, pp. 78-79). Em P.S., contém a “composição” de “um
forte moço das Beiras”, intitulada “O soldado na
trincheira”, “uma lição”, segundo Mateus Moreno: “[…] E
quando o gaz aparece, / Seja de noite ou de dia, / A sentinela
assobia / E vae tocar a sineta; / Ouve-se ao longe a
corneta, / E gaz-alarme é á certa, / E o nariz logo
se aperta / E o tubo á boca caminha, / Porque a mascra já
se tinha / Em posição de gaz-álerta.”
A única crónica
“Sôbre a guerra”, das prometidas posteriormente por Mateus
Moreno, inclui uma ilustração militar geográfica na “Carta da
região norte do front ocidental, onde se encontram
batalhando as tropas portuguesas. O traço mais negro, que desce
de Dizmude até leste de Arras, representa a frente de batalha”
[Legenda]. Na sua introdução, o autor adverte os leitores que
precisam de “alguma perspicácia para conseguir adivinhar o
que se não deve aqui dizer” (n.º 25, pp. 5-6), referindo-se,
certamente, à “Censura de Guerra”, então vigente. Para saber
mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a respetiva ficha
histórica.
Helena Roldão | Lisboa, HML, julho de 2014
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