Veja a canção vencedora

Para a imprensa (livre) de Portugal, o novo formato que a RTP criou para o seu festival era o maior motivo de notícia. Havia novidades nos nomes a concurso, como José Mário Branco e Sérgio Godinho, mas José Afonso e Fernando Tordo tinham recusado o convite da RTP. A imprensa pouco se importou com a falta de ineditismo da canção escrita por José Mário Branco (“Alerta”) e sublinhou o minimalismo ou a pobreza em detrimento dos ambientes pomposos e requintados dos festivais anteriores. O comunicado do Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta foi um momento único na história destes festivais, e este, que fora feito para um Portugal pós 25 de Abril, não contou por certo que José Mário Branco ainda se posicionava mais à esquerda, defendendo a “ditadura do proletariado”. À parte desta história e das intenções políticas de muitos dos presentes, venceu “Madrugada”, na voz de Duarte Mendes, “em tom festivaleiro” (Flama), não deixando de ter uma mensagem de esperança nas palavras escritas e musicadas por José Luís Tinoco. Em Estocolmo, o “capitão-cantor”, como a imprensa estrangeira apelidou Duarte Mendes, desdobrava-se em entrevistas – “andam os ‘senhores’ da imprensa mundial preocupados com o futuro do Portugal novo” (Diário Popular), um motivo acrescido de interesse para a imprensa eurovisiva, já que estes festivais iam, “ano para ano, perdendo o interesse de que inicialmente se revestiram, devido a factores de ordem múltipla” (O Século Ilustrado).

 
       
 

O Século Ilustrado, n.º1942, 29 de Março de 1975, pág. 60
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