Veja a canção vencedora |
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Num voo entre Lisboa e Montreal, José Calvário registou os
traços essenciais da melodia de “E Depois do Adeus”, já a pensar
em Paulo de Carvalho. Dias depois, junta-se a letra de
José Niza e uma orquestração primorosa do próprio Calvário.
Estava feita a obra que venceria a edição deste ano do Festival
RTP da Canção. Claramente, mas houve quem preferisse os Green
Windows, em “No Dia em Que o Rei Fez Anos”, o que provocaria
protestos veementes dentro e fora da sala do Teatro Maria Matos.
A imprensa aproveitou a confusão para relatar esta disputa, a
tal ponto que se pediu a substituição do júri de seleção (Diário
Popular). Uma curiosidade: Amália Rodrigues fora convidada
para cantar “A Rosa Que Te Dei”, de José Cid, mas rejeitou.
Todos, porém, iam impecavelmente vestidos – “Parada de elegância
em noite de cantigas” (Gente) –. Sendo que o vencedor era
o mais discreto, com “um vulgar fato azul escuro, camisa azul
clara, gravata no tom do fato com pintas brancas: chamemos-lhe
uma gravata à ‘Bécaud’” (Gente). Para Brighton, viajaram
muitos jornalistas, pois a expetativa era grande e uma viagem à
estância inglesa era sempre um passeio agradável. Noticiaram a
presença discreta de Paulo de Carvalho, nos ensaios, nas festas,
nas compras. A canção portuguesa crescia de entusiasmo junto de
outras delegações e dos próprios músicos da orquestra mas, uma
mudança súbita nas regras de votação, acabaria por condená-la na
classificação final, remetendo-a para o último lugar – “uma vez
mais se verificou que há países donos a senhores” (Rádio &
Televisão) ou “E depois de ‘Waterloo’ o adeus a um festival
decadente” (Diário Popular). Poucos dias depois, foi o
adeus ao antigo regime político português, para o que contribuiu
“E Depois do Adeus” como primeira senha radiofónica para o
avanço do pronunciamento militar, que daria origem à Revolução
do 25 de Abril.
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