O Dia, jornal diário, publicou-se entre 11 de dezembro de 1975 e 12 de abril  de 1988, totalizando 3973 edições. Teve como último diretor João Coito, e como último proprietário a RIGOR - Sociedade de Informação e Cultura, SA.

Última edição:
Ano XIII / N.º 3973 / terça-feira, 12/04/1988

Primeira edição d'O Jornal de O Dia:
Ano
I / N.º 1 / quarta-feira, 13/04/1988



 

O DIA

O caso deu-se entre 12 e 13 de Abril de 1988. O Dia apareceu nas bancas como Jornal de O Dia e reiniciou o contador de edições. A mudança foi preparada no maior dos segredos e realizou-se da noite para dia: plim! O jornal era outro. Mas quase que não se dá pela diferença: o tamanho, o grafismo, a cor, o nome do diretor, João Coito, nada mudou. O que atrai a atenção é o tom soturno da manchete “A MORTE QUE NÃO HÁ…” e a foto de um grupo de cidadãos em volta de um cristo cruxificado e de uns cartazes que proclamam “SÓ CRISTO! E OS CRISTÃOS PODEM SALVAR O POVO MÁRTIR DA FONTE DA TELHA”.

A manchete e a foto não estão relacionadas, mas combinam-se, colam-se ao primeiro olhar, que avidamente procura explicações no texto que ladeia a fotografia, e que reza assim: “Assisti ontem ao acto mais vexatório de toda a minha vida longa carreira de jornalista. Jamais pensei que neste meu país, eu havia um dia de presenciar a cena degradante que testemunhei e tenho a obrigação profissional de contar. Os leitores conhecem o meu nome e conhecem a minha maneira de ser e de pensar e, a maior parte deles conhece também o meu rosto físico pelo menos através da Televisão, (…). Sabem que sou incapaz de distorcer a verdade e que, à minha maneira beirã, sou o que se costuma dizer «pão, pão, queijo, queijo». Nunca disse que era o que não era e tenho procurado ser fiel a um determinado número de princípios que reputo fundamentais.”

Foi neste tom martirizado e intimista, modelado em suspense e apimentado com alusões políticas, que o ex-diretor de O Dia, agora director de O Jornal de O Dia, informou os leitores sobre o que se passara. A história resume-se em poucas palavras: a empresa proprietária de O Dia, a RIGOR, entrara em colapso financeiro e o jornal fora encerrado no dia anterior (12 de Abril). Mas vale a pena continuar a ler o testemunho dramático de João Coito e escutar a sua teoria sobre uma conspiração (judaica? capitalista?) para calar O Dia:

“Eram quase 15 horas da tarde quando «chegaram os cangalheiros». À frente como se fosse o sacerdote escolhido para a triste função, o dr. Moisés, um judeu convicto e religioso.

A liturgia de dar sepultura ao «defunto» não podia ser, evidentemente, a hebraica. Teria de ser, ao que disseram, a prevista na lei portuguesa. O morto estava mirrado, quase só com os ossos frágeis e partidos… Como em todos os «crimes», a primeira coisa que se pretende saber é quem aproveitou com o facto.



 

A mim não me foi difícil descortinar onde se acoitavam os aproveitadores, tanto mais quanto sabia que, alguns dias antes, me tinha sido feito um convite formal para «embarcar» noutro projecto.”

No final dos anos 80 o setor da imprensa escrita já estava em contração. Qual seria o projeto? Mas o que causa mais espanto é como foi possível fazer a mudança sem que nada transpirasse. O exercício não era fácil: criar a empresa, mudar de instalações, garantir os equipamentos mínimos, uma empresa gráfica, um distribuidor… Além do mais que o fim de O Dia suscitou uma onda de solidariedade da e na imprensa, mas no dia seguinte.

E assim terminou (e renasceu) O Dia, lançado a 11 de Dezembro de 1975, sob a direção de Vitorino Nemésio. Foi um dos primeiros projetos editoriais privados lançados após a revolução de 25 de Abril. Curiosamente, nascido de um caso, «o dos 24» jornalistas saneados do Diário de Notícias, em Agosto de 1975, por terem contestado a orientação política seguida pela direcção do jornal nacionalizado.

Cinco anos depois deste último número, em Junho de 1993, o ciclo do renascimento conclui-se e O Jornal de O Dia foi substituído por O Dia, mas essa já é outra história.

 

 

        




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