Recortes de imprensa:

“«Luuanda», de Luandino Vieira – 1.º prémio de novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores”. ABC – Diário de Angola, 16 de Maio de 1965, p. 1

“Foram atribuídos os prémios literários da Sociedade Portuguesa de Escritores”. Diário de Lisboa, 19 de Maio de 1965, p. 24

“Armando de Castro, Luandino Vieira e Isabel da Nóbrega – grandes prémios literários da Sociedade Portuguesa de Escritores”. República, 19 de Maio de 1965, p. 7

“Os prémios literários da sociedade Portuguesa de Escritores”. Diário da Manhã, 20 de Maio de 1965, p. 3
 

LUUANDA
Luandino Vieira

Apesar do regime de censura prévia, o facto é que o enaltecimento da «escrita crioula» de Luandino, como expressão de uma «identidade angolana» emergente que, pela sua focagem na realidade miserável e humilhante a que estava submetida a população negra, foi classificada de neorrealista, não fez soar nenhum alarme. De resto, havia outros problemas, e mais urgentes, onde focar a atenção. A guerra iniciada em 1961 prometia arrastar-se até ao insustentável; o “inimigo” não era só um, pois coexistiam diversos movimentos nacionalistas, independentistas, liderados quer por negros, quer por brancos nascidos em Angola; os críticos do regime multiplicavam-se, tanto entre os que reclamavam a democracia e o direito à autodeterminação das colónias, como entre os que desejavam mais repressão e acusavam o regime de ser demasiado brando. No plano internacional, o panorama não era melhor. As pressões e as tensões tendentes a forçar Portugal a desistir da sua enraizada ambição de potência colonialista vinham de vários quadrantes, motivadas por estímulos e propósitos diversos.

 

No início de Maio, apareceram as primeiras notícias, no tom neutral da informação, sobre a constituição dos júris dos 3 prémios a atribuir pela SPE em 1965: Prémio Camilo Castelo Branco, para a modalidade romance; Grande Prémio de Novelística e o Grande Prémio de Ensaio. A 16 de Maio, o ABC de Angola chamou à primeira página a entrega do prémio de novelística a Luandino Vieira. Terá sido o primeiro a tornar pública essa decisão do júri, tomada no dia 10, por maioria ‒ uma antecipação em relação à imprensa da metrópole que merece sublinhado e suscita interrogações. Qual a razão desse atraso, que só foi recuperado no dia 19, no República e no Diário de Lisboa?

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