col. Hemeroteca Municipal de Lisboa

O OCIDENTE: revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro (Lisboa, 1878-1915) — «A partir de 1914, a atenção que o Ocidente dedicava ao plano internacional alargou-se consideravelmente. O jornal passou a acompanhar e a comentar o contínuo e crescente armamento das nações e o xadrez estratégico que se foi desenvolvendo no terreno», lê-se na ficha histórica que Rita Correia dedicou a esta publicação.

De facto, a evolução do conflito, desde a sua eclosão até ao fim de publicação desta revista, foi sendo vertida na coluna permanente de J. A. Macedo de Oliveira, “Pelo Mundo Fora” ou “Conflagração Europeia: pelo mundo fora” — que consistia numa súmula de imprensa (v. n.º 1287, pp. 316-318) acompanhada de abundantes fotografias e ilustrações; a vertente opinativa, acerbamente favorável ao alinhamento de Portugal com a Tríplice Entente, esteve a cargo de João Cobeira, nos seus editoriais “Crónica Ocidental”, de que é ilustrativo o seguinte período: «Portugal deseja intervir de pronto com a sua armada formidanda e poderosíssimo exército na Grande Guerra. O que é certo, é que os ânimos portugueses estremecem com veemência em estos de belicosidade. Declarámo-nos, sem hesitar, terminantemente, contra a Alemanha. Tecemos elogios longos à França. Colocámo-nos incondicionalmente ao lado da Inglaterra. […] Portugueses, à primeira voz, prestos, marcham… Entretanto, as potências ainda não sentiram por ora necessidade do nosso auxílio contigente» (n.º 1283, p. 266).

Em relação ao envolvimento português na guerra, O Ocidente terminou o seu curso de publicação antes de Portugal assumir formalmente a beligerância no teatro de operações europeu, limitando-se o seu testemunho às campanhas africanas de 1914
. A este respeito, a capa do n.º 1285 ostentava o retrato de Alves Roçadas e noticiava-se no seu interior as expedições militares a Angola e Moçambique, a partida das quais seria reportada, com fotografias, nos n.ºs 1286 e 1291. A partida dos reforços ao contigente expedicionário angolano foi noticiada aos n.ºs 1295 e 1300 (com fotos), contribuindo assim O Ocidente para as queixas posteriores de Alves Roçadas, de que aos alemães lhes bastava acompanharem a imprensa portuguesa para conhecerem o número de efetivos nacionais com que se defrontavam. Assinalou-se, com fotografia, o lançamento à água do novo destroyer “Guadiana”, e louvou-se Augusto de Carvalho Ferreira, voluntário no exército belga distinguido por bravura em combate (n.º 1287); a visita de cruzadores aliados a Lisboa mereceu reportagem fotográfica (n.º 1288) e os “Oficiais da Legião Portuguesa destinada aos campos da Grande Guerra” foram homenageados com retratos de capa (n.º 1289). O n.º 1293, de 30 de novembro de 1914, deu amplo destaque gráfico e literário à sessão do Congresso de dia 23 anterior, que autorizou a entrada de Portugal na guerra. Já com as tropas em solo africano, as fotografias de campanha foram publicadas nos n.ºs 1300 e 1308 (quatro clichés do Tenente Reis). No domínio dos testemunhos literários, destaquem-se as “Narrativas dum exilado: memórias duma testemunha presencial dos primeiros acontecimentos da Grande Guerra na Bélgica”, por Tomás da Câmara, filho de D. João da Câmara, exilado na Bélgica aquando do início das hostilidades, e que as escreveu a instâncias desta revista (n.ºs 1301, 1303 e 1304). Para saber mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a respetiva ficha histórica.

Pedro Teixeira Mesquita | Lisboa, HML, julho de 2014