col. Hemeroteca Municipal de Lisboa

A MONARQUIA (Lisboa, treze números entre 25 de janeiro e 10 de março de 1916). Jornal monárquico, antiliberal, antimaçónico e católico integrista, preconizou, durante o seu curto período de publicação, uma acirrada recusa à participação de Portugal na guerra — a qual constituiu, aliás, um dos principais esteios editoriais deste bissemanário, intrincada no ataque veemente ao regime republicano e no esforço de estruturação operativa da causa monárquica.

As primeiras palavras deste órgão, logo no número inaugural, foram para denunciar, em proclamação ao país, o oferecimento de um corpo expedicionário português à Inglaterra, feito por Bernardino Machado em 1914. De seguida (n.º 1, páginas 2 e 3) — revelando o seu redator,
Astrigildo Chaves (1886-1926), que a recusa da participação portuguesa não era uma posição anti belicista, mas somente um arrimo de descontinuidade da República —, deu-se nota da esperança de que do “pesadelo” da guerra resultasse a “libertação” política, confiando-se no «triunfo inadiável das monarquias! Vença lá quem vencer, Guilherme II ou Jorge V. Mas Monarquias a valer, retomada a corrente pura da doutrina, que a Grande Revolução cortara […]. Quer dizer: Reis ungidos de direito divino substituirão os reis liberais e os chefes de Estado a curto prazo. […] Porque o triunfo das Monarquias arrancará de vez as sarças e os cardos que não deixam frutificar em toda a sua plenitude exubera a seara dos Estados. […] Ai das repúblicas! têm os seus dias contados… e felizes dos povos que souberem amar os Reis. Deus Super Omnia…»

Não sendo jornal noticioso, a estrita informação sobre o evoluir do conflito ficou confinada, nas páginas d’A Monarquia, a pontuais, mas amplas, recolhas de pequenos artigos (n.º 5, pp. 4-5, e n.º 7, pp. 5-6). Mais conformes à natureza do jornal eram os textos doutrinários ou panfletários nos quais se zurzia a política republicana, desde a condenação do previsível envolvimento militar português (“Sempre vamos à guerra?”, n.º 6, p. 2) até ao escândalo para com a efetiva declaração de guerra da Alemanha e a reação portuguesa (“Que faz o governo?”, n.º 13, p. 3), passando pela denuncia e crítica da apreensão de navios alemães e austro-húngaros surtos em portos portugueses (“Os barcos alemães: as naus dos quintos”, n.º 10, p. 5) e pelo repúdio à subsequente entrevista justificativa de Afonso Costa (“Finis”, n.º 11, pp. 2-3). No ano da entrada formal de Portugal na Grande Guerra, as páginas de A Monarquia, conquanto escassas e de curta amplitude, não deixam de constituir um interessante testemunho da posição sustentada por parte da oposição monárquica em relação à participação no conflito europeu (note-se que o jornal é omisso quanto às forças expedidas para as colónias desde 1914), revelando os mecanismos doutrinários e propagandísticos que refletiam a guerra no âmbito estrito da política nacional. Para saber mais sobre esta publicação, ler, na íntegra, a respetiva ficha histórica.

Pedro Teixeira Mesquita | Lisboa, HML, julho de 2014