col. Biblioteca Museu República e Resistência

A IDEIA NACIONAL (Aveiro, 7 de Março a 15 de Maio de 1915). Esta revista monárquica foi caldeada num momento particular da história do país: os 110 dias do governo do general Pimenta de Castro. Pela primeira vez desde a implantação da República, o P.R.P. (democráticos) esteve arredado dos órgãos do poder e gerou-se um ambiente de maior tolerância para com os monárquicos, os católicos e outros grupos referenciados como conservadores e reaccionários. A 24 de Fevereiro, a pretexto da necessidade de garantir a «genuinidade do sufrágio», o general Pimenta de Castro alterou a lei eleitoral e adiou a eleição geral dos Deputados e Senadores (poder legislativo) para 6 de Junho. Neste novo quadro, a Causa Monárquica considerou estarem reunidas as condições para ensaiar uma estratégia restauracionista alternativa à das armas: a organização de um partido monárquico para impor pela força do voto o regresso da Monarquia. Urgia, portanto, agregar todas as sensibilidades politicas e ideológicas com expressão entre os monárquicos e consensualizar posições e discursos sobre os diversos problemas que afligiam a nação. Foi esse objetivo que orientou o programa editorial d’A Ideia Nacional.

A questão da guerra era, claro está, incontornável. Se até ali se deixara circular livremente as opiniões mais díspares e controversas, com o único fito de causar o maior dano aos governos republicanos, tornava-se agora imperioso definir a posição “oficial” dos monárquicos. Poucos estariam investidos de mais autoridade do que o conselheiro Ayres Ornellas, lugar-tenente do rei D. Manuel II e seu representante perante os monárquicos e as próprias instituições da Republica. Como não podia deixar de ser, considerando as relações seculares que uniam Portugal e a Inglaterra e o exílio do rei perto de Londres, os monárquicos colocaram-se do lado das forças aliadas. Com a atenção centrada na frente europeia, Ayres Ornellas logo no seu primeiro artigo responsabilizou o império alemão pelo conflito europeu e, da caracterização dos seus «methodos de guerra» inovadores, síntese da força bruta com a ciência, quis fazer prova da natureza “maléfica” do ethos germânico. Na interpretação de Ayres Ornellas a guerra significava o reacender dos antagonismos que tinham motivado a cisão dos protestantes (Reforma) e a rutura com a civilização latina. Portanto, para não trair as suas raízes ou a sua história, para corresponder à lealdade inglesa, que não se deixara corromper pelas propostas alemãs, a posição de Portugal só podia ser alinhada com a do Império britânico. Portanto, o país só podia beneficiar com a restauração da monarquia.

Focado no risco que pendia sobre as colónias africanas, o oficial africanista Lourenço Cayolla chegou à mesma conclusão, ainda que por meio de uma interpretação mais verosímil. Cayolla pôs em relevo os erros em que haviam incorrido os governos republicanos, mas também passou em revista a história da colonização portuguesa, sem escamotear a debilidade dos seus alicerces. Assim, denunciou a precipitação com que, nas instituições da república e na imprensa, se anunciou a disponibilidade do país para participar na guerra, ao lado das forças aliadas, mas «sem nos declararmos beligerantes e sem interrompermos sequer as mais cordeaes relações diplomáticas com a nação da qual nos mostrávamos claramente inimigos!» Um “non sense” que, para Cayolla, só acrescentara mais risco para as colónias. Mas o dano maior e que só a muito custo seria reparado, derivava da separação entre o Estado e a Igreja, que, através das missões religiosas fora fundamental «para que negro acatasse a autoridade do nosso paiz e nos respeitasse como nação suserana». Essas missões tinham sido destruídas sem acautelar quem as substituísse e o resultado estava à vista: a presença portuguesa enfraquecera e as forças estrangeiras aproveitaram para avançar pelo território e instalar-se. Só a Monarquia podia sarar as feridas abertas e recuperar o tempo perdido. Da guerra na europa, tratou ainda o escritor francês G. Jean-Aubry, que foi correspondente d’ A Ideia Nacional, em Paris. Para saber mais sobre esta revista recomenda-se a leitura da respetiva ficha histórica.

Rita Correia | Lisboa, HML, fevereiro de 2015