Veja a canção vencedora

O fim esteve à vista: a RTP admitiu acabar com o festival, mas optou por cortar no orçamento; a Sociedade Portuguesa de Autores insurgiu-se contra a “selecção” de centenas de canções em tão poucas horas de reunião do júri; e a Federação das Telecomunicações defendia os trabalhadores envolvidos na emissão do festival, no sentido de lhes serem dadas melhores condições de trabalho. Estas foram as principais notícias nos dias antecedentes ao programa do concurso. Em termos das cantigas, escrevia-se: “Uma flor para ganhar o festival” (Correio da Manhã), referindo-se à de Carlos Paião, na voz de Cândida Branca-Flor. As Doce espreitavam a sua oportunidade, à terceira tentativa. E esta foi de vez, mas à tangente. A imprensa não perdoou e intitulou “a ‘doce’ vitória num festival azedo” (Correio da Manhã). Para a Inglaterra, seguiu um malhão estilizado, no dizer de muitos, e com ele a maior comitiva até à data. A esperança era grande, e a imprensa viajou em peso. Conta-se que a BBC quis negociar com a RTP, por causa da troca dos votos (12 pontos), mas a televisão portuguesa rejeitou. Nas vésperas do espetáculo estavam “as Doce entre as cinco favoritas” (Diário Popular), a fazer fé nas apostas e na profusão de fotos do grupo português espalhadas pelas montras da cidade. Um “doce à portuguesa” (Diário Popular) abriria o espetáculo, mas não adoçou suficientemente a boca dos europeus.

 
       
 

Nova Gente, n.º 293, 28 de Março a 4 de Abril de 1982, capa
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