A 17 de Agosto de 1715 teve início a publicação da Gazeta de Lisboa, um dos primeiros periódicos que circularam no país e também um dos mais resilientes. O título, ainda que com vários ajustes e interrupções, manteve-se até 1833. Mas se considerarmos que a Gazeta de Lisboa esteve na génese do jornal do governo ou oficial, que hoje conhecemos como Diário da República, a sua história ainda continua. Assim sendo, e de modo a assinalar o seu terceiro centenário, propomo-nos relembrar as transformações que o periódico foi conhecendo no tempo. É uma das coleções de maior valor e interesse do fundo histórico da Hemeroteca. Por isso mesmo temos vindo a digitalizá-lo. Mas é obra de grande folego! Neste momento, na Hemeroteca Digital já estão acessíveis mais de 90 anos de edição. 

Não foi a primeira “gazeta” publicada em Portugal, que já vira circular as celebres Gazeta da Restauração, publicadas entre 1641 e 1647, no quadro guerra com Espanha, além de outras folhas periódicas como as “Relações” e os “Mercúrios”. Tal como estas, a Gazeta de Lisboa começou por configurar uma iniciativa privada, acarinhada pelo poder régio, sob a forma de concessão de um privilégio. Tinha então uma natureza essencialmente noticiosa e cosmopolita, centrada no que se passava nas principais cortes europeias, na vida social das famílias reais, na Igreja, nas guerras, nas relações políticas e comerciais, etc.. As suas principais fontes de informação eram as gazetas e outras folhas similares que se publicavam nos vários reinos europeus. Portanto, no início, as leis não foram a matéria predominante na Gazeta de Lisboa, ainda que algumas tenham sido reproduzidas nas suas páginas, nomeadamente as que respeitavam ao exército, as nobilitações, as nomeações, entre outras.   

Foi a partir da revolução liberal (1820) e da subsequente luta entre absolutistas e constitucionalistas, que a Gazeta de Lisboa se valorizou, enquanto canal de comunicação do poder instituído com a sociedade, quer para a convencer da virtude e bondade das suas doutrinas, quer para tornar públicas as suas decisões. A sua história foi, então, fortemente condicionada pela instabilidade político-institucional que marcou a primeira metade do século XIX. Nesse período, a publicação oficial não ficou imune às polémicas políticas e jornalísticas; alguns dos seus redatores foram demitidos e presos, e mudou várias vezes de título. Só a partir de 1859, é que o periódico oficial ficou, de facto, sob tutela da administração do Estado. Mas foi preciso esperar mais de 100 anos para que assumisse o título que hoje lhe conhecemos: Diário da República, desde Abril de 1976.
 
Mais recentemente, no ano 2006, e com o recurso às novas tecnologias da informação e comunicação, a publicação oficial passou estar acessível, gratuitamente, na internet. Esta aposta na desmaterialização do Diário da República veio ao encontro de velhas aspirações e de novos desafios, como sejam o desenvolvimento da cidadania, a universalidade no acesso à informação oficial, a transparência da ação governativa e a eficácia da administração, ou a poupança de recursos financeiros e a proteção do ambiente. Atualmente, o Diário da República eletrónico é parte integrante do conceito inovador de Governo Eletrónico, que se vem concretizando através da criação de novos canais de contacto com a administração e de acesso aos  seus serviços, como seja o portal do Cidadão, o das Finanças, o Netemprego, a Segurança Social Direta, a Biblioteca de Conhecimento On-line (b-on), o portal de Acesso ao Ensino Superior, entre muitos outros.

 

     
     
 

FICHA TÉCNICA

Da Gazeta de Lisboa ao Diário da República Eletrónico : 300 anos de imprensa oficial portuguesa | Coordenação do projeto: João Carlos Oliveira | Investigação e Textos: Rita Correia (HML) | Digitalização e tratamento de imagem: Serviço de Digitalização e Imagem da Hemeroteca Municipal de Lisboa | Conceito e webdesign: João Carlos Oliveira