Ao fim 26 anos de vida como jornal semanário, fundado por José Cândido Godinho no ano de 1939, apresentou-se nas bancas para estrear um formato inédito no país: o da “revista-magazine”. Foi no dia 5 de maio de 1967. Agora fazia parte da Sociedade Nacional de Tipografia (SNT), proprietária do jornal O Século e de outras publicações. A caixa publicitária que assinalou o lançamento teve por mote “O saber não ocupa lugar… mas é preciso sabê-lo arrumar!” e apregoava a oferta “duma perspetiva completa do que vai pelo mundo” em 68 páginas. Na imagem que fazia de fundo, um cidadão, sentado em frente de um rádio transmissor, envolto num novelo de cabos telefónicos e películas de filmes, de saco de gelo na cabeça, esforçava-se para acompanhar a atualidade. Segundo o novo diretor, Francisco Eugénio Martins, com a nova Vida Mundial tudo seria mais simples. A revista foi bem recebida pelo público, chegando a atingir uma tiragem média de 40.000 exemplares (1973). À data do 25 de Abril de 1974, a Vida Mundial tinha como diretor interino Miguel Figueira e estava instalada na rua de O Século, 63. Como a edição de 26 já estava fechada, da revolução nada transpirou. Mas na semana seguinte (3 de maio) os festejos foram replicados com o primeiro «1.º de Maio em Liberdade» chamado a editorial, que ainda assinalou “O regresso de Álvaro Cunhal”. A Revolução eclipsou “O mundo numa semana”, pois ocupou-lhe as 48 páginas disponíveis. Publicou um diário da Revolução, reportando os principais acontecimentos à velocidade dos ponteiros das horas; reproduziu os documentos emitidos pelas forças revolucionárias; biografou os membros da Junta de Salvação Nacional; acompanhou a chegada de Mário Soares a Lisboa; e ainda houve espaço para uma reflexão sobre “Um longo processo” que agora se encerrara - texto de cariz ensaístico firmado com 3 assinaturas cifradas: “P.R.S., A.F.M. e M.S.P.” A última era, provavelmente, de Miguel Serras Pereira. Além dele, integravam a redação: Mário Baptista; Eduardo Geada; José Martins Garcia; Afonso Praça; Fernando Dil; Fernando Antunes; Eurico Fonseca; Figueiredo Filipe, Roby Amorim, entre outros.
Nas duas semanas seguintes, a revolução continuou ‘viva’ nas páginas da Vida Mundial. Na edição de 10 de maio, destacamos as entrevistas com Francisco Pereira de Moura, do Movimento Democrático Português, e Fernando Loureiro, do Partido Socialista; e a notícia da tomada de posição dos jornalistas nos principais órgãos de informação. A maior novidade da edição de 23 de maio foi a apresentação do novo diretor, Augusto Abelaira. A ocasião serviu de pretexto para reiterar aos leitores que a Vida Mundial se mantinha «norteada por uma noção de independência», tal como estivera “durante o período longuíssimo do ‘silêncio’”; publicou uma entrevista com Magalhães Mota, do Partido Popular Democrático, e reservou muitas páginas para o Governo Provisório.

Rita Correia
Hemeroteca Municipal de Lisboa

 
     
  Números disponibilizados na Hemeroteca Digital: 1821 (3 de Mai. 1974) a 1823 (24 de Mai. 1974)