Tempo, semanário, publicou-se de 29 de maio de 1975 a 29 de novembro de 1990, totalizando 815 edições. Teve como último diretor João Rosa, e como último proprietário a Tempogest Jornais e Publicações, S.A.

Última edição:
Ano XVI / N.º 815 / quinta-feira, 29/11/90

 

TEMPO

Fundado por Nuno Rocha (1933-2016) dois meses depois do golpe spinolista de 11 de Março de 1975, que desencadeou a fúria revolucionária do “Verão quente” – a contagem dos números teve início na quinta-feira, 29 de Maio daquele ano –, o semanário Tempo despediu-se dos seus leitores quando avançava para o 16.º ano de existência.

Até ao final dos anos 70, o tom irreverente e anticomunista do Tempo encontrou uma grande recetividade, que ficou refletida em tiragens que chegaram a atingir os 120.000 exemplares. Mas após a constituição do primeiro governo de centro direita, com a vitória eleitoral da Aliança Democrática (PSD/CDS/PPM) nas eleições legislativas de 1979 e de 1980, essa retórica começou a perder audiência; tendência que, entretanto, foi sendo exponenciada pelo aparecimento de novos títulos no mercado da imprensa de âmbito nacional, sobretudo na generalista, mas também na económica: na primeira metade dos anos 80, dirigidos sobretudo a um público mais popular, surgiram o diário Correio da Manhã (Março de 1979), os semanários Tal & Qual (Junho de 1980) e O Crime (Agosto de 1982), além do Semanário (Novembro de 1982) e do Semanário Económico (Janeiro de 1987); e em 1988, teve iníAno XVIcio o processo de reprivatização dos jornais nacionalizados, nomeadamente o Jornal de Notícias (Junho de 1988), A Capital (Outubro de 1988), o Diário Popular (Julho de 1989) e o Diário de Lisboa (Dezembro de 1989), que correu em paralelo com o lançamento do semanário O Independente (Maio de 1988), o Diário Económico (Novembro de 1989) e O Público (Março de 1990).

Devido a este dinamismo contínuo e inovador, os sintomas de esclerose financeira do Tempo foram-se acumulando e em 1988 a sua vida esteve mesmo em risco. Não desapareceu porque houve uma empresa, a Tempogest – Jornais e Publicações, SA, que decidiu apostar na sua continuidade, submetendo-o também a um processo de renovação editorial, com substituição do corpo diretivo, e a medidas de racionalização da gestão. Mas a terapêutica não resultou. Em 1990, algumas notícias sobre o fim do Tempo referem que a sua redação estava reduzida a 17 jornalistas contratados e a tiragem não ultrapassava os 3.000 exemplares.     



 

O encerramento do semanário Tempo não foi um caso isolado. Nesse ano já haviam desaparecido das bancas de rua e dos escaparates das tabacarias o semanário O Liberal (em Abril) e O Diário (em Junho), e a última edição do Diário de Lisboa saiu um dia depois da do Tempo, ou seja a 30 de Novembro. A “crise da imprensa” portuguesa era, pois, um tema recorrentemente abordado nas páginas dos jornais e objeto de análises e debates por parte das estruturas sindicais, associações e outros organismos do setor.

João Rosa, que assumiu a direção do semanário Tempo no final de 1988, no editorial do último número, sugestivamente intitulado “Eutanásia” (p. 2), partilhou com os leitores o diagnóstico daquele caso, cuja recuperação lhe fora confiada. Ainda que não refira nomes, é percetível a quem e a quê era atribuía a responsabilidade do fracasso do semanário: “O «Tempo» tem quinze anos e meio de existência e foi, na primeira metade da sua vida, com êxito, uma referência de primeiro plano na Imprensa Portuguesa. Depois, quando infelizmente, as respectivas gestão e direcção [Rocha, Nuno/Imprenova Imprensa Nova, SARL] deixaram de ser emanadas de uma vontade colectiva e passaram a ser ditatorial e incompetentemente exercidas, degradaram, de forma fatal a credibilidade e a aceitação do jornal.”

No prosseguimento do seu balanço, João Rosa também lançou críticas à nova empresa proprietária (Tempogest), embora num tom mais suave, além de substancialmente impreciso: “Numa primeira fase – até meados de 1990 – esta nova Administração permitiu opções de gestão que se revelaram pouco adequadas ao êxito, que se pretendia, do investimento feito na recuperação económica do jornal.”

Seguiram depois os agradecimentos da praxe: primeiro, a todos os que se haviam empenhado naquele “esforço comum de remar contra uma já tão antiga e forte maré”, com uma palavra de apreço extra para os jornalistas “que, n[os] dias derradeiros resistiram a oportunistas cantos e contos de sereia entretanto urdidos”; depois, aos leitores, “de sempre ou dos últimos tempos, pela generosa preferência”, aconchegado por um “humilde pedido de desculpas, por eventuais deficiências do nosso trabalho”, e a quem legou este sombrio aviso: “Os jornais - mesmo os grandes jornais, como o «Tempo» - também falham; tal como também adoecem e morrem; e também se abatem.”

Na mesma página do editorial de João Rosa, foram também publicados dois comunicados: um, do Conselho de Administração da Tempogest e dirigido aos trabalhadores; outro, do Conselho de Redação, para esclarecimento dos leitores, em reação a “notícias saídas na Imprensa” [que] davam uma imagem que não oferecia dúvidas: a culpa do encerramento era da exclusiva responsabilidade dos jornalistas – juízo que rejeitavam em absoluto. Também partilharam algumas das “mensagens de consternação e solidariedade” recebidas (pp. 12-13); e para corroborar a análise do diretor, João Rosa, ou para satisfação dos leitores mais fiéis, replicaram uma das muitas crónicas redigidas pelo polémico (ou saudoso) Manuel de Portugal, datada de 1975.

No suplemento Tempo Económico, uma das inovações em que assentou o relançamento do semanário em 1988, também foram publicados artigos interessantes sobre o seu encerramento, contextualizado no quadro da “crise da imprensa”, e sobre as novas tendência do setor, nomeadamente: o texto de abertura, presente na primeira página; o editorial de Luiz Faria (p. 3); “A crise da galáxia de Guttemberg”, de Marco Leão (p. 4); e “A estratégia Europeia”, de Rogério Chagas (p. 9).

Em Novembro de 1991, o Tempo reapareceu, ostentando ainda o nome de João Rosa, como diretor, mas reduzido a duas páginas e não almejando mais do que a periodicidade anual. Um esforço que salvaguardava a propriedade do título e que foi mantido até Novembro de 2002, data do último número presente na coleção da Hemeroteca Municipal de Lisboa.

 
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