O País, semanário, publicou-se entre janeiro de 1976 e 9 de julho  de 1984, totalizando 446 edições. Teve como diretor José Vacondeus, e como último proprietário a IMPRELIVRO - Imprensa e Livros SARL.

Última edição:
Ano IX / N.º 446 / quinta-feira, 19/07/1984

O PAÍS : SEMANÁRIO

Ao fim de nove anos de luta em defesa “dos valores exclusivos da Pátria”, da “livre economia de mercado”, José Vacondeus, o diretor, anunciou em editorial que chegara a hora do “Descanso do Guerreiro”, a fim de “repensar” o que fora feito e “reestruturar” o programa editorial de acordo “com as condições reais da vida portuguesa” e com “as preferências dos leitores que ainda vão conseguindo ter poder de compra suficiente para alimentar os apetites legítimos de informação.”

Para contextualizar, importa lembrar que na sequência das eleições legislativas de Abril de 1983, que não deixou definida uma maioria absoluta, os dois partidos mais votados, o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, concertaram posições em torno de um programa para superar a crise económica e financeira em que o país se estava a afundar - o que complicava e atrasava o processo de integração na Comunidade Económica Europeia - e formaram o governo do “Bloco Central”. Esta solução política e o plano de regeneração económica que a cimentava, assente num acordo financeiro com o FMI, não colheram o consenso dentro dos dois partidos e as medidas de austeridade impostas não agradaram Ao chamado “país real”. Este, sentindo-se enganado e não representado no acordo político firmado entre PS/PSD, manifestou nas ruas a sua ira e a sua indignação, aumentando a temperatura do ambiente político e social.

José Vacondeus, diretor de O País, aproveitou esta onda de indignação para acusar toda a classe política pelo estado da nação e desacreditar o regime democrático, num discurso populista temperado com evocações saudosistas do regime de Salazar: “Antes do 25 de Abril vivia-se numa situação que não agradava a toda a gente que, com honestidade, ansiava pelo terminus de um regime ditatorial. Depois da Revolução o que se passou a assistir foi à mentira institucionalizada, ao compadrio escandaloso, à demagogia, ao oportunismo e à defesa intransigente de interesses pessoais e de grupo, arredando aquilo que teria de ser a preocupação dominante, que é o bem da Pátria.”
                



 

Neste alegado assalto ao poder, por via do ‘esqueleto’ institucional do Estado, José Vacondeus já “não disting[ue] comunistas dos outros. Todos se têm comportado de igual maneira, defendendo cada um seu «castelo» mas, quando as conveniências provocam a união, juntam-se contra os «intrusos» que pretendem introduzir-se no feudo partidário.” Ele, José Vacondeus, não apoiava essa camarilha corrupta; ele não estava em nenhum dos lados da barricada que separava o poder da oposição; ele estava e queria estar fora de jogo, estava com os “cidadãos não partidários”, os puros, os pequenos empresários, os verdadeiros empreendedores, os milhões de portugueses que não faziam parte dessa “classe de privilegiados” que agregava os dirigentes dos partidos, os respetivos filiados e os “gestores públicos”.

Concluído o seu discurso demagógico, José Vacondeus colocou em mira o então líder do PSD, Carlos Alberto da Mota Pinto, revelando a solução milagrosa que preconizava para “o bem da Pátria”: “Mas passando das generalidades, embora dramáticas, ao concreto e pontual, a primeira grande aberração que é forçoso assinalar é a de estarem praticamente decorridos 60 dias sobre a data da reunião do Conselho Nacional do PSD, em que foi imposto a Mota Pinto criar uma nova dinâmica dentro do Governo e, acima tudo, fazer com se procedesse a reformas estruturais (…), entre as quais se contavam as mudanças na legislação de trabalho e a aplicação das novas leis de arrendamento.”

O recado ficou dado, mas José Vacondeus não escondia o seu pessimismo, “sabendo-se como se sabe que em Agosto ninguém trabalha neste País (ou ainda se trabalha menos!), não se pode contar que, (…), a figura mais relevante dos sociais-democratas tenha capacidade de cumprir com aquilo a que ficou obrigado.” Ademais, afirmou ainda: “Ninguém, da área democrática, está interessado em que o Governo se desmorone. Os vários grupos dentro do PSD também pretendem ganhar tempo para poder levar a cabo a eventual concretização das suas ambições. Mário Soares, acima de todos, necessita da coligação para assentar nela o seu projecto para Belém.” Portanto, como nada se iria passar nos tempos mais próximos, o “Guerreiro” saía de cena, mas prometia regressar à acção a 4 de Outubro. A escolha da data estaria relacionada com as comemorações da Revolução Republicana?

A promessa ficou por cumprir, pois número seguinte, adjetivado de “especial”, só apareceu um ano depois (julho de 1985). O que não inibiu José Vacondeus de continuar a dar a cara como diretor. Este exercício anual, para garantia do título, manteve-se até 2007, mas José Vacondeus largou o comando no final de 1996.

Quanto a conteúdos desta última edição de O País destacamos, no plano nacional: “Crise «arruma» as férias” (p. 9); “Eanes teimoso não dá luz verde para Partido Presidencial” (p. 13); os dossiês “Forum das PME/1.º Salão de Criação de Empresas” (pp. 10-11), “Especial CIC” sobre a Feira Comercial e Industrial de Coimbra (pp. 38-39), “Especial/Montalegre” (pp. 35-37) e “Especial/Chaves” (pp. 40-43), e “Especial/Urbanização e Propriedade”, focado em Lisboa (pp. 31-34).

Resta recordar que o semanário O País apareceu nas bancas a 9 de Janeiro de 1976, ano que inaugurou o processo de normalização da democracia, com a aprovação da nova Constituição, a 2 de abril, e a realização do ciclo de eleições legislativas (25 de abril), presidenciais (27 de junho) e autárquicas (12 de dezembro). Neste ambiente político pós-25 de Novembro, a direita mais hostil à Revolução e mais hostilizada durante o PREC reorganizou-se e afirmou-se como ator político, lançando alguns semanários de âmbito nacional como: O País, dirigido por José Vacondeus, O Diabo, dirigido por Vera Lagoa (10 de fevereiro) que, tendo sido suspenso, foi substituído por O Sol (9 de março) e A Rua, dirigido por Manuel Maria Múrias (30 de março) – títulos que estão disponíveis na Hemeroteca Municipal.

 
 

 

        




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