Ficha bibliográfica


VERDE, Cesário, 1855-1886

O Livro de Cesario Verde : 1973-1886
Lisboa : Typographia Elzeveriana, 1887. - XIX, 103, [5] p. ; 18 cm

BN Res. 4468 P.

Nota

A poesia de José Joaquim Cesário Verde (1855-1886) apenas foi publicada em volume em Abril de 1887, com o título O Livro de Cesário Verde, numa edição de duzentos exemplares ao cuidado do seu amigo Silva Pinto. Não se pode, no entanto, dizer que a sua poesia não era já conhecida, pois Cesário Verde publicou, entre 1873 e 1884, vários dos seus poemas em periódicos da época, desde o Diário de Notícias até ao A Ilustração, passando pelo Diário da Tarde, Jornal da Tarde, A Tribuna, Mosaico, O Porto, A Evolução, Ocidente, Renascença, Revista de Coimbra, Novidades e Cancioneiro. A investigação conduzida em especial por Joel Serrão demonstrou que era errada a bipartição da poesia edição d’O Livro de Cesário Verde (que não incluía todas as composições do poeta).

Segundo aquele investigador, Cesário não teria legado ao seu amigo qualquer esboço de livro, tendo antes sido Silva Pinto a organizá-lo de acordo com os seus critérios. António Salgado Júnior chegou mesmo a levantar a hipótese de que estes critérios serviriam os interesses de um futuro estudo crítico do próprio Silva Pinto.

À parte as questões editoriais, a poesia de Cesário assume-se como um marco na transição do Romantismo para as correntes que vigaram no início do século XX, constituindo-se mesmo como um caminho, sobretudo, para o Simbolismo e para o Modernismo (como defende em particular, e com argumentos convincentes, Óscar Lopes). A poesia de Cesário Verde dá conta de uma forte poetização do real, que se traduz, muitas vezes, numa apreensão impressionista de quadros e breves “flashes” do quotidiano, e onde as questões sociais surgem endereçadas de um modo já peculiarmente moderno – ou seja, como fazendo parte de um tecido social sentido como fundadoramente heterogéneo e contrastivo (“Desastre” é, neste aspecto, exemplar). Outra linha de leitura da poesia de Cesário passa pelo binómio cidade/campo que toma forma nos seus versos, embora esta dialéctica entre as experiências do campo e as experiências urbanas possa também ser entendida como uma forma particular que assume, mais uma vez, o entendimento da vida moderna – que, na esteira de Baudelaire, surge como um tecido que simultaneamente dá conta do novo e da forma como o antigo continua a surgir, através da sua mesma ruína ou efígie.

Bibliografia

Centenário da Morte de Cesário Verde, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna, 1986.
Colóquio – Letras, nº 93 - «Homenagem a Cesário Verde», Setembro de 1986.
José BERNARDES, “A mulher na poesia de Cesário Verde”, Cadernos de Literatura, 24, 1986, pp. 9-19.
Elisa Lopes CÓIAS, “Cesário Verde, poeta realista?” Cadernos de Literatura, 16, 1983, pp. 43-50.
Óscar LOPES, “Cesário Verde ou do Romantismo ao Modernismo”, Entre Fialho e Nemésio, volume II, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1987, pp. 461-473.
Helder MACEDO, Nós – Uma Leitura de Cesário Verde, 3ª ed., Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1986.
Fernando Cabral MARTINS, Cesário Verde ou a Transformação do Mundo, Lisboa, Comunicação, 1988.
Margarida Vieira MENDES, “Apresentação Crítica”, in Cesário VERDE, Poesias de Cesário Verde, 2ª edição, Lisboa, Comunicação, 1982.

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