D. João IV
Alegoria da Lusitânia
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Dá-se o
nome de Restauração ao regresso de Portugal à sua
completa independência em relação a Castela em 1640, depois
de sessenta anos de regime de monarquia dualista (1580-1640)
em que as coroas dos dois países couberam ambas a Filipe II,
Filipe III e Filipe IV de Castela. Nos anos imediatamente
anteriores a 1640 começou a intensificar-se o
descontentamento em relação ao regime dualista em parte dos
membros da classe aristocrática, dos eclesiásticos
(principalmente os jesuítas, que exploraram nesse sentido as
crenças sebastianistas – e, em geral, «encobertistas») e
acaso também entre os interessados no comércio com as
províncias ultramarinas do Atlântico. (…) A má administração
do governo espanhol constituía uma grande causa de
insatisfação dos Portugueses em relação à união com Castela.
Dessa má administração provinha o agravamento dos impostos.
(…) A 6-VII-1628 era expedida a carta régia que, sem o voto
das Cortes (por tradição, indispensável para que se criassem
novos tributos), mandava levantar, por meio de empréstimo
forçado, as quantias necessárias para a defesa, durante seis
anos, de todos os lugares dos nossos domínios ameaçados
pelos estrangeiros. A população mostrou logo a sua má
vontade. (…) A tensão agravou-se quando o clero (cujos
privilégios o isentavam de tais imposições) se viu também
incluído na colecta geral. (…) Também no Ultramar surgiram
protestos. (…) Em 1635 era estendido a todo o reino o
imposto do «real de água», bem como o aumento do das sisas.
Em 1634 confiava Olivares o governo de Portugal a uma prima
co-irmã de Filipe IV, a princesa Margarida, viúva de
Vicêncio Gonzaga, duque de Mântua. Ao mesmo tempo (fins de
1634) Miguel de Vasconcelos era transferido do seu posto de
escrivão da Fazenda para as elevadíssimas funções de
secretário de Estado, em Lisboa, junto da duquesa, cargo em
que teve ensejo de desagradar muito aos Portugueses não
partidários de Castela. (…) Num escrito editado em 1641, sob
o título Relação de tudo o que se passou na felice
aclamação, declara-se que D. António de Mascarenhas
«fora a Évora a amoestar aos cabeças daquela parcialidade
que não desistissem do começado e que, para que a empresa
tivesse bom sucesso, pedissem amparo à Casa de Bragança».
Era no duque, com efeito, que se pensava para chefe da
insurreição e futuro monarca de Portugal independente; mas
ele não achava oportuno o momento para tão grande aventura,
e tratou de dar provas públicas de que reprovava a ideia. É
de notar, todavia, que aos incitamentos internos se
acrescentava um exterior, provindo da França, (…) então em
luta com a Espanha, [que] se empenhava em impelir Portugal e
a Catalunha contra o governo de Madrid. (…) Em 1638 tomou o
conde-duque uma outra resolução que descontentou a nossa
gente: a pretexto de os consultar sobre uma projectada
reforma da administração do nosso País, convocou a Madrid
grande número de
fidalgos, e ordenou levas de tropas para servir nas
guerras que a monarquia espanhola sustentava, sangrando
assim Portugal das suas maiores forças. (…) O que veio dar
mais impulso à ideia da independência foram as novas
exigências do conde-duque. Em Junho de 1640, com efeito,
insurgia-se a Catalunha, e Olivares pensou em mandar
portugueses a combater os catalães revoltados, ao mesmo
tempo que se anunciavam novos impostos. (…) Aderiram à
conjura o juiz do povo, os Vinte e Quatro dos mesteres e
vários eclesiásticos, entre os quais o arcebispo de Lisboa,
D. Rodrigo da Cunha. Deram também a sua colaboração o doutor
Estêvão da Cunha, deputado do Santo Ofício, e D. António
Telo. Em Outubro realizou-se uma reunião conspiratória no
jardim do palácio de D. Antão de Almada, a S. Domingos, em
Lisboa. Assistiram, além dele, D. Miguel de Almeida,
Francisco de Melo, Jorge de Melo, Pêro de Mendonça e João
Pinto Ribeiro. (…) Teve também influxo na resolução a mulher
do futuro Monarca, D. Luísa de Gusmão. (…) Chegado a Lisboa
a 21-XI-1640, João Pinto Ribeiro convocou os conspiradores
para uma reunião num palácio que o duque tinha em Lisboa e
onde ele, João Pinto, residia. Decidiu-se estudar em
pormenor o plano do levantamento, amiudando-se as reuniões.
Por fim, marcou-se o momento de sublevação: 9 horas da manhã
de sábado, 1.º de Dezembro. Na noite de 28 para 29 surgiram
complicações, por haver quem julgasse que eram poucos os
conjurados; mas João Pinto Ribeiro, a quem quiseram
encarregar de transmitir ao duque o intuito de se adiar,
opôs-se tenazmente a tal ideia, numa discussão que se
prolongou até as 3 horas da manhã. (…) O dia 1.º de Dezembro
amanheceu de atmosfera clara e muito serena. Tinham-se os
conjurados confessado e comungado, e alguns deles fizeram
testamento. Antes das 9 horas foram convergindo para o
Terreiro do Paço os fidalgos e os populares que o padre
Nicolau da Maia aliciara. Soadas as nove horas, dirigiram-se
os fidalgos para a escadaria e subiram por ela a toda a
pressa. Um grupo especial, composto por Jorge de Melo,
Estêvão da Cunha, António de Melo, padre Nicolau da Maia e
alguns populares, tinha por objectivo assaltar o forte
contíguo ao palácio e dominar a guarnição castelhana, apenas
os que deveriam investir no paço iniciassem o seu ataque.
Estes rapidamente venceram a resistência dos alabardeiros
que acudiram ao perigo e D. Miguel de Almeida assomou a uma
varanda de onde falou ao povo. Estava restaurada a
independência…
Bibliografia:
In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial
Enciclopédia, Limitada, Vol. 25, Lisboa/Rio de Janeiro,
1978, pp. 317-319. |
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