col. Biblioteca-Museu República e Resistência

Memórias dum expedicionário a França (com a 2.ª Brigada d’Infantaria) é mais um importante registo, na primeira pessoa, da experiência de participação em combate na I Guerra Mundial. Foi editado no Porto, em 1919, sendo o seu autor o alferes de Infantaria Humberto Augusto de Almeida (Bragança, 1895-1971).

Como em tantos outros casos, o conflito mundial acarretou uma inflexão no percurso de vida desde jovem estudante que, no ano letivo de 1914-1915, se matriculara na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Convocado em Maio de 1916 para frequentar a Escola de Oficiais Milicianos, veio a integrar o Corpo Expedicionário Português, permanecendo em França de 1917 a 1918, destacando-se no comando do Quartel-General da 2.ª Brigada de Infantaria. Após o armistício, frequentou em 1920-22 o Curso Especial de Infantaria na Escola Militar, mas em 1924 retomou o seu percurso académico na Universidade do Porto, onde se licenciou em Ciências Físico-Químicas e em Engenharia Químico-Industrial, e onde se tornou docente a partir de 1930. Será nessa área a sua vasta produção científica, em parte justificada pela colaboração com os laboratórios do Instituto do Vinho do Porto, desde 1938.

A narrativa, como se de um diário se tratasse, permite acompanhar o percurso desde o embarque nos navios britânicos, em Lisboa, até à frente de batalha, intercalando a descrição dos confrontos com observações da paisagem natural e humana, ou com episódios exemplificativos da interação (nem sempre amistosa) das forças portuguesas com as dos exércitos aliados ou com a população local. O tom do texto é heróico e claramente enaltecedor da coragem e dos feitos dos portugueses, apresentando-se como testemunho de um esforço merecedor de reconhecimento: “Oxalá que Portugal saiba avaliar e reconhecer o martírio e o sacrifício dos seus filhos que, gotejando sangue, escreveram o seu nome em letras indeleveis na retalhada Flandres, que foi o teatro das maiores batalhas de todos os tempos, e levaram a sua fama através do mundo inteiro!”

João Carlos Oliveira | Lisboa, HML, dezembro 2014