Veja a canção vencedora

Houve quem ficasse perplexo em Portugal. Houve quem fosse apanhado desprevenido por um fenómeno emergente: protótipo de cantores de intervenção ou de resistência do PREC. Subitamente ganhavam antena e até o Festival RTP da Canção – “Quem luta sempre alcança” (Expresso). Os Homens da Luta mostraram a sua força nos contextos da época de crise e de redes sociais na Internet, de novo num tempo de contestação e aberto a registos não convencionais. Na Alemanha, ganharam dinheiro na rua e provocaram reações díspares – “Vai tudo abaixo… pá!” (TV 7 Dias) –, estiveram a “curtir bué” (Público) na Eurovisão. Comentava-se que, ou ganhavam ou ficavam em último. O grupo divertiu-se e fez divertir quem com eles partilhou a estada em Düsseldorf: “o grande trunfo aconteceu na subversão das regras das conferências de imprensa em que chegaram a dar ‘pão e queijo’ português aos jornalistas estrangeiros, entre os kirikiris de Falâncio e um coro sempre presente: ‘Luta, luta camarada luta!’.” (Visão). Nem todos aceitavam este número: “Nas bolsas de apostas, Portugal não tinha a mínima hipótese” (Visão), mas houve na imprensa estrangeira (The Guardian) quem apelasse ao voto em Portugal ou se referisse a eles como “um fenómeno social” (El Mundo). Mas, “com grande parte dos concorrentes a cantar em inglês, os ‘Homens da Luta’ estavam em desvantagem, ao manter-se fiéis à nossa língua. Além disso, não têm um cantor que se veja, uma voz. Jel e Falâncio são actores, agitadores, brincalhões, etc., etc., o que não são é cantores” (Jornal de Notícias). A luta não passou na Europa, mas continuou, alegremente, nas ruas de Düsseldorf e, contestatariamente, num Portugal em crise: “A Luta é Alegria”!

 
       
 

Público 2, n.º7700, 7 de Maio de 2011, pág. 9
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