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“Revista de doutrina e crítica”
com periodicidade quinzenal, foi
fundada em 1921 por um grupo de intelectuais sob iniciativa de
Raul Proença, onde se contavam Câmara Reis, Teixeira de
Pascoaes, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, Raul Brandão,
Ferreira de Macedo e Faria de Vasconcelos. Segundo António Reis,
a Seara Nova
constituiu-se desde o seu início como “o principal órgão
de intervenção na vida política e cultural de sucessivos grupos
de intelectuais republicanos de esquerda ao longo de seis
décadas”,
laborando “sem obediências partidárias nem dogmatismos
ou sectarismos ideológicos, num espírito de diálogo e
solidariedade interna e na base de três preocupações
fundamentais — a defesa e aprofundamento das liberdades cívicas;
a reflexão crítica sobre os problemas económicos, sociais e
culturais do país com vista à formulação de alternativas
programáticas de orientação socialista; a promoção de um
movimento de opinião em torno desses objectivos”. O espírito
seareiro causticou a degradação republicana, opôs-se à
Ditadura Militar, resistiu ao Estado Novo e contribuiu para a
formação de uma consciência cívica que ansiava pela liberdade,
através das colaborações
de, entre muitos outros para além dos fundadores: António
Sérgio, Manuel Sertório, Augusto Casimiro, Rui Cabeçadas,
Nikias Skapinakis, Lopes Cardoso, Rogério Fernandes,
Augusto Abelaira, Manuel Rodrigues Lapa ou José Saramago. Em
abril de 1974,
com periodicidade mensal e sob a direção de Rodrigues
Lapa (que substituira Augusto Abelaira no ano anterior),
a Seara Nova vivia, desde 1959, um 4.º ciclo de
vida, suscitado pela movimentação de apoio a Humberto Delgado e
consolidado no esforço oposicionista na campanha de 1969,
marcado na doutrina por um peso crescente (mas não ostensivo) da
corrente marxista — repartida entre socialistas e comunistas — e
por um muito acentuado crescimento da sua circulação: tiragens
na casa de 30.000 exemplares, cerca de 18.000 assinantes e cerca
de 70% dos seus leitores nas faixas etárias até aos 34 anos. O
número (especial) de maio de 1974,
pronto e inteiramente refeito para dar eco da Revolução (saindo
por isso com dias de atraso e reduzido em número de páginas),
trazia na capa uma fotografia do 1º de Maio a que se sobrepôs o
lema “O Povo Unido Jamais Será Vencido”, e era inteiramente
dedicado a celebrar o 25 de Abril através de evocações ou
depoimentos de Rodrigues Lapa, Lopes Cardoso, Fernando Correia,
Sottomayor Cardia, António Reis, Pedro da Silveira, Adelino
Gomes, Ulpiano do Nascimento e Albano de Lima. Ao abrir o número
evocaram-se os seareiros que ficaram pelo caminho e a
fechar reproduziu-se integralmente o programa do MFA,
seguido de uma homenagem a José Magro (21 anos preso pela
ditadura); na contracapa, reproduziu-se caricatura de Sam
alusiva ao 1º de Maio com os cortes que a censura lhe impôs
quinze dias antes da Revolução.
Passada a celebração, o número seguinte, de junho, abrindo com
um artigo de Amílcar Cabral, debruça-se já sobre os caminhos a
seguir no novo Portugal, resume o 25 de Abril em balanço de
arquivo, publica documentos para “a história do fascismo” e
reflete sobre as situações africana e brasileira, retomando
ainda as habituais secções artísticas e literárias, para
encerrar na contracapa com uma homenagem a João Sarmento
Pimentel. A partir deste momento,
e no contexto da confrontação política verificada no PREC, a
corrente comunista torna-se hegemónica na publicação,
iniciando-se uma nova fase na sua vida.
Pedro Teixeira Mesquita
Hemeroteca Municipal de Lisboa
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