Título fundado por António José de Almeida em 1911, iniciou uma 2.ª série em 1930, sob a direção sucessiva de Joaquim Ribeiro de Carvalho e de Jaime Carvalhão Duarte. Era, desde agosto de 1972, dirigido por Raul Rêgo e tinha por chefe de redação Vítor Direito, liderando uma equipa onde se contavam, entre outros, Mário Mesquita, Fernando Assis Pacheco, Jaime Gama, Alberto Arons de Carvalho, Pedro Foyos, José Jorge Letria, José Martins Garcia e Álvaro Guerra — e que vinha consistentemente aumentando tiragens e convertera o República no mais influente diário oposicionista nacional não clandestino. Estava instalado na rua da Misericórdia, n.º 116, e era propriedade da Editorial República, maioritariamente detida por dirigentes da oposição socialista. O República constituiu-se, nos dias anteriores à Revolução, como centro de apoio civil às operações militares, particularmente pela ação de Álvaro Guerra: na edição de 24 de abril, uma discreta nota chamava a atenção para o programa radiofónico “Limite”, que emitiria a senha Grândola, vila morena. No dia 25, depois de o seu diretor se recusar de viva voz a enviar provas ao Exame Prévio, o República saiu à rua com uma tarja em rodapé de primeira página anunciando que “Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura”. A manchete categórica — “As Forças Armadas tomaram o poder” — não era ainda, à hora de publicação do vespertino, factual, relevando mais do desejo e da necessidade de mobilizar os meios populares: a rendição do Carmo só ocorreria horas mais tarde. Estes elementos, tarja e manchete, bem como a maior parte do conteúdo da edição — mais reduzida em páginas do que o habitual, mas inteiramente dedicada à Revolução —, manter-se-iam ao longo das (pelo menos) três edições do República publicadas nesse dia, sucessivamente atualizadas entre si mas idênticas nos seus elementos essenciais. Os caminhos da Revolução continuaram a ser copiosamente noticiados e comentados em múltiplas edições diárias dos números subsequentes do República. Em maio de 1975, a deflagração do “caso República”, com a ocupação do jornal por um setor radical e a expulsão dos seus corpos dirigentes e redatoriais, levou à queda do IV Governo Provisório, em julho seguinte. O República, já descaracterizado, cessaria publicação a 22 de dezembro desse ano. Entretanto, as direção e redação saneadas lançaram o Jornal do Caso República (maio-julho de 1975) e A Luta (agosto de 1975-1979). Em 1976, Raul Rêgo seria internacionalmente distinguido com a Pena de Ouro da Liberdade, pela sua atividade em prol da liberdade de expressão.

Pedro Teixeira Mesquita
Hemeroteca Municipal de Lisboa

 
     
  Números disponibilizados na Hemeroteca Digital: 15421 (25 Abr. 1974) a 15426 (2 Mai. 1974)