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“Revista de pensamento e acção”, de periocidade mensal, nasce em
janeiro de 1963, do encontro entre António Alçada Baptista
(proprietário da livraria e editora Moraes)
e um grupo de jovens oriundos da Juventude Universitária
Católica. Inspirada na revista francesa Esprit e no
personalismo de Emmanuel Mounier,
era considerada órgão da corrente católica adversa ao Estado
Novo, os chamados “católicos progressistas”. Tendo por núcleo
fundador um grupo composto por António Alçada Baptista
(proprietário e diretor), João Bénard da Costa (chefe de
redação), Pedro Tamen (editor), Nuno Bragança, Alberto Vaz da
Silva e Mário Murteira,
a revista pretendeu vigorar como lugar de diálogo
com outras correntes de pensamento, logo presentes no seu
primeiro número através de Mário Soares e Jorge Sampaio ou, mais
tarde, Adérito Sedas Nunes, Manuel de Lucena, Medeiros Ferreira,
Salgado Zenha, Sottomayor Cardia, Mário Brochado Coelho, João
Cravinho, Vitor Wengorovius, Vasco Pulido Valente, entre muitos
outros. A crescente abertura da revista desviou-a da sua
natureza original, iniciando em 1969 uma segunda série, mais
acentuada à esquerda, sob a direção de João Bénard da Costa e
Helena Vaz da Silva, secundados por Luís Salgado de Matos e
Júlio Castro Caldas; a partir de 1972, dirigido por Luís Matoso,
o título rompe com o seu passado e vinca a deriva esquerdista,
identificando-se com a oposição maoista através de nomes como
Arnaldo de Matos, Amadeu Lopes Sabino ou João Martins Pereira,
num coletivo editorial que dispensava a assinatura particular
dos artigos. Em abril de 1974 O Tempo e o Modo era já
órgão exclusivamente político. O n.º 103, relativo a março e
abril desse ano, mas publicado em maio, tem como título de capa
“Caiu o fascismo a luta continua!”, uma vez que, como indicava o
artigo de abertura, as “pétalas” da Revolução foram colhidas
pela burguesia, ficando os “espinhos” para o povo. Nesta linha
de convicção, o suplemento de oito páginas a este número,
integralmente dedicado ao 1º de Maio, constituiu-se como
repositório das iniciativas populares fomentadas pelo MRPP
(filiação partidária que a revista já não esconde) com vista à
emancipação das classes populares. Em continuidade, o n.º 104,
de maio seguinte (saído em junho), sob o título “A Crise da
Burguesia e o Avanço Impetuoso da Classe Operária”, prossegue a
doutrinação visando “a defesa das posições do Povo”, e, entre
outras matérias, denuncia “o caráter burguês e antipopular da
‘liberdade de informação’ instaurada pelo 25 de Abril” ou “A
Corrupção Revisionista no campo do Cinema”, não deixando,
obviamente, de alertar para a ameaça “contrarrevolucionária” do
“governo de ampla união burguesa”. Neste figurino mas com
pontuais incrementos temáticos, a revista durou até 1977, vindo
a ser recuperada em 1984, para uma 3.ª série de perfil mais
abrangente, mas que só durou um número.
Pedro Teixeira Mesquita
Hemeroteca Municipal de Lisboa
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