Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
integra o álbum homónimo de José Mário Branco, o seu primeiro LP
e que em pouco tempo esgotou os 5.000 exemplares editados. O
disco foi gravado nos arredores de Paris e lançado em Lisboa, no
Cinema Roma, com uma emissão em direto pela Rádio Renascença.
Com uma orquestração
inovadora e sofisticada e uma componente irónica e irreverente,
o LP
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
conjuntamente com o EP de Sérgio Godinho Romance de um dia na
estrada (lançado na mesma sessão), inaugura uma nova fase da
música portuguesa e de rutura com a balada acompanhada à viola
que dominara o panorama musical de intervenção desde os inícios
de sessenta.
Curiosamente, a faixa Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades é a única canção não
composta por José Mário Branco mas pelo amigo cantor e
compositor Jean Sommer. Também o poema de Luís Vaz de Camões,
monumento nacional e figura inquestionável pelas “autoridades”,
é inteligentemente reconduzido por José Mário Branco ao papel
interventivo, reforçado nas palavras intrusas do músico:
“E se todo o mundo é composto de mudança / Troquemos-lhe as
voltas que ainda o dia é uma criança.”
Isabel Novais
Serviço de Fonoteca
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