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Apareceu na tarde de 21 de fevereiro de 1968, por iniciativa
de um grupo de 10 jornalistas, que criou a empresa Sociedade
Gráfica de A Capital, SARL. Começou por ser dirigida por
Norberto Lopes e Mário Neves, que evocaram o legado do saudoso
“diário republicano da noite”, e afirmaram a sua independência
política e financeira. Extinguiu-se em 30 de julho de 2005. Em
Abril de 1974, estava sedeada na rua Joaquim António de Aguiar.
Parte do seu capital pertencia agora à banca. A nova direção,
confiada dois meses antes a Henrique Martins de Carvalho,
coadjuvado por José Júlio Gonçalves, fora mandatada para alinhar
(politicamente) o discurso produzido por alguns redatores. A
julgar pelos carateres desmesurados que enchem por completo a
primeira página da edição de 25, alguma tensão se acumulara. Num
grito apregoam: “Golpe militar: Movimento das Forças Armadas
desencadeia acção de madrugada”. Embora aquele padrão gráfico,
definido pela escala inusitada, fosse típico deste jornal,
naquele dia parecia ampliado pela força do que comunicava. Na
página seguinte, um imenso “Apelo à calma e ao civismo” dá o tom
à narrativa cronológica dos acontecimentos, que se desenvolve
pelas outras. As fotos, grandes também, mostram uma cidade
povoada de tropas, tudo gente comum, em movimento ou conversa
descontraída. Os comunicados emitidos pela rádio e algumas
“breves” sobre o curso da Revolução pelo país completaram esta
primeira abordagem. Faziam parte da redação mais de três dezenas
de jornalistas, entre os quais Rodolfo Iriarte, Cáceres
Monteiro, Apio Sottomayor, Maria Teresa Horta, Pedro Vieira,
Silva Marta, etc. No dia seguinte, o maior destaque foi
concedido ao programa da Junta de Salvação Nacional, apresentado
num encontro com a imprensa. Mas o que podia marcar a diferença
eram as histórias vividas pelos repórteres na cidade, por isso
ninguém lhes regateou o espaço para que partilhassem os seus
testemunhos, que transpiram a mesma emoção que se vivia nas
ruas. Distanciamento, isenção, parecem impossíveis de cumprir.
Os jornalistas d’A Capital viveram a Revolução e
defenderam-na sem reservas, ao ponto de lançarem sentenças
contra os populares que não tinham respeitado os apelos do MFA:
“Come hoje pão seco quem o açambarcou ontem”. As fotos revelavam
agora o rosto dos líderes emergentes, sobretudo o do general
Spínola e outros membros da Junta de Salvação, e o povo nas ruas
em festa. Mas a imagem do jornalista Mário Ventura Henriques, no
pátio da prisão de Caxias, de mãos no rosto a tentar suster a
comoção, reproduz como nenhuma outra a descompressão que modelou
aqueles dias.
Rita Correia
Hemeroteca Municipal de Lisboa |
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