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O
interesse desta publicação começa desde logo no
formato que adota, que corresponde com precisão ao
título com que se apresenta:
A Entrevista.
Já em relação ao seu subtítulo, “sem santo nem senha”, há que colocar algumas reservas. A
estrutura dos 20 números que compõem a coleção
obedece a um esquema fixo, em que a entrevista é
antecedida por um estudo biográfico do entrevistado.
O seu
promotor, Joaquim Leitão, nascido no Porto em 1875,
tinha atrás de si uma carreira de jornalista
iniciada no
Jornal de Notícias, e continuada no
Correio da Manhã. Em
1911, editara o
Diário dos Vencidos: subsídios para a história da revolução de cinco de
Outubro, ainda hoje um importante
documento que revela a versão monárquica dos
acontecimentos em torno da implantação da República,
em 1910. Ele próprio exilado após a revolução,
fundou e dirigiu a partir do exílio, em 1912 (7 de
dezembro),
O Correio: semanário monárquico,
jornal do Porto de que se publicariam 25 números,
até 24 de maio de 1913.
No texto
de abertura de A Entrevista,
Joaquim Leitão compromete-se com um trabalho de
“serena independência mental”, com "ausência de
superstição política”, “puro jornalismo
sem santo nem senha”, sem “propagandar uma causa nem agitar um
pendão”. Autoatribui-se um estatuto de “inquiridor
da política internacional”, com a missão de
“desarticular um acontecimento ou um homem, abril-o,
ver como é feito por dentro, apurar se contém uma
tragédia ou uma farça, se é de carne e osso ou se é
de folhelho”.
A escolha
dos entrevistados acaba por não confirmar o
compromisso de independência: são todos eles
monárquicos ou republicanos dissidentes. |
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No mesmo ano de 1913, outro projeto editorial tenta recuperar a memória das "vítimas" do novo regime. Em Álbum dos Vencidos, o editor, diretor e proprietário Alberto Pereira de Almeida, ele próprio "preso durante 10 mezes e 10 dias nas cadeias d'Almeida, Limoeiro, Trafaria, Relação do Porto e demittido após a prisão do cargo de notário d'Almeida", no que apresenta como "publicação quinzenal sem caracter político", dedica aos "bons portuguezes" "biographias ornadas dos respectivos retratos, de todos aquelles que na prisão, no exilio, ou ainda em liberdade, conjuraram o seu esforço heroico na rehabilitação da Patria". Da extensa lista de presos políticos constam "sacerdotes, antigos ministros e conselheiros, titulares, advogados, medicos, professores, officiaes do exercito, pharmaceuticos, commerciantes, e algumas damas da primeira sociedade, conduzidos indecorosamente às masmorras como um rebanho tragico e ululante de rezes feridas, no meio dos apúpos, úrros e bofetões", "martyres e obreiros da ambicionada Redempção." Este título, embora incompleto, fica também disponível na Hemeroteca Digital, aqui. |
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