Não terá sido sem intenção provocatória que, em finais de 1965, Natália Correia, com a cumplicidade do editor Fernando Ribeiro Bento de Melo, deu corpo ao projeto de uma Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.
  
"Acto de necessária liberdade" contra as "espartilhadas regras de bem pensar e bem sentir" (Luiz Francisco Rebello), esta compilação, dos cancioneiros medievais à produção poética contemporânea, arriscava-se claramente a despertar a "sádica nostalgia das fogueiras do Santo Ofício" (David Mourão Ferreira).
    
De facto, não demorou a captar a atenção da Censura, para quem a "proibição rigorosa" deste "livro imoral", de "carácter pornográfico", com a consequente apreensão dos volumes, não foi medida suficiente, despoletando um longo processo judicial por abuso de liberdade de imprensa.
    
No dia Mundial da Poesia, assinalado hoje, é com a história desta antologia poética, que pode conhecer aqui, que damos continuidade ao projeto Livros que foram notícia, onde desde janeiro de 2018, uma vez por mês, revisitamos episódios mediáticos incontornáveis na história da literatura portuguesa recente.