A 9 de março de 1916 o governo imperial alemão entregou no ministério dos negócios estrangeiros português a declaração de guerra. Paradoxalmente, a notícia não desagradou ao governo português, que há já algum tempo que diligenciava para ser admitido entre as forças da “Tríplice Entente”. E as razões ou motivações que estavam subjacentes a esse objetivo derivavam da necessidade de consolidar a jovem República, quer no plano interno, agregando os republicanos em nome de uma causa comum; quer no plano internacional, pois era notório que a estratégia imperialista perseguida por outras nações comportava um elevado “risco” para os interesses coloniais portugueses em África.

 

A declaração de guerra alemã não foi um ato isolado, inseriu-se numa cadeia de acontecimentos hostis desencadeados a partir de setembro de 1914, em África, nas fronteiras luso-alemãs do Sul de Angola e do Norte de Moçambique. Mas o seu antecedente mais próximo foi a apreensão dos navios alemães, ancorados no Tejo há mais de ano e meio, por ordem do governo português, executada a 23 de Fevereiro de 1916.
 

Dentro das limitações físicas impostas pelo espaço disponível, procurou-se fazer montra dos periódicos do espólio da Hemeroteca que acompanharam os primeiros anos da Guerra, sob diversos ângulos e com recurso a diferentes linguagens: tomando posição quanto à participação portuguesa; refletindo sobre o impacto económico da guerra e fazendo eco das iniciativas cívicas e das políticas do governo para os compensar; dando notícia dos combates do exército português em África, nas fronteiras luso-alemãs do Sul de Angola e no Norte de Moçambique e da preparação da intervenção militar na frente europeia, até ao que foi chamado de “Milagre de Tancos”,  a grande empresa de preparação militar, sob direção de Norton de Matos, ministro da Guerra, que colheu os seus frutos em Julho de 1916.