Disponibilizamos hoje 3 títulos de imprensa cinematográfica portuguesa, 3 projetos editoriais diversos nos seus propósitos e conteúdos, mas remetendo todos eles para a década de 1930, período florescente da história do cinema. Em Portugal, multiplicavam-se as salas de cinema e a sua frequência; criava-se a Tobis Portuguesa, empresa que,  nos anos de 1932 e 1933, construiria o  estúdio vocacionado para a produção de filmes falados em português; surgia uma nova geração de realizadores e o investimento (em assinalável medida financiado pelo Estado Novo) em grandes produções: citem-se José Leitão de Barros, com Maria do Mar (1930) e A Severa (1931); Manuel de Oliveira, com Douro, Faina Fluvial (1931), Cottinelli Telmo, com A Canção de Lisboa (1933); António Lopes Ribeiro, com Gado Bravo (1934). Neste momento de passagem do cinema mudo para o sonoro, o cinema português reforça o seu papel como veículo de cultura popular. No grande ecrã, é também a época áurea da comédia, que promove ao estrelato nomes como Beatriz Costa, António Silva, Maria Matos ou Vasco Santana.

É uma viagem por este momento da história do cinema que lhe propomos.
 

     
 

Editou-se no Porto, de 1932 a 1934, tendo como diretor e proprietário Alberto Armando Pereira, pioneiro do jornalismo cinematográfico português e com colaboração na imprensa além-fronteiras. Fica a partir de agora disponível na Hemeroteca Digital, aqui, o primeiro ano da publicação, num total de 41 números.

Conforme se lê na ficha histórica que acompanha a  coleção digital, da autoria de Jorge Mangorrinha, que pode ler aqui, a revista surge como "consequência do interesse crescente, em Portugal, pelo cinema, com o surgimento dos primeiros filmes, das primeiras empresas de cinema, de muitas revistas da especialidade e dos primeiros críticos". O foco de atenção da revista, contudo, estava menos orientado para os passos do cinema português do que para a evolução do cinema internacional, particularmente da indústria cinematográfica de Hollywood. Com conteúdos estruturados em rubricas mais ou menos fixas, destaque-se a secção "Carta de Hollywood", assegurada pelo correspondente João Portugal, a partir da qual se dava, em primeira mão, notícia das novas produções americanas.

     
     
 

Outro projeto do Porto (publicou-se em 1933-1934, com direção de Armando Vieira Pinto), cuja coleção completa, de 27 números, fica disponível aqui. No seu último número, de setembro de 1934, a Movimento previne os leitores a respeito de uma suspensão temporária da publicação, mas a verdade é que o título não teve continuidade com o "novo aspecto e novas fôrças" que se anunciavam.

A revista assume uma particular atenção às produções nacionais e que deixa antever uma promoção do cinema ao estatuto de indústria. Dois filmes merecerão especial destaque nas suas páginas: A Canção de Lisboa (de Cottinelli Telmo), com Manuel de Oliveira no papel de galã, e Gado Bravo (de António Lopes Ribeiro), cuja rodagem vai sendo acompanhada ao longo de vários números (sendo mesmo tema de um número especial - 16-17, de fevereiro de 1934), com entrevistas, fotografias das filmagens, e textos de crítica, entre os quais destacamos um com o curioso título "A superioridade cinematográfica do campinho sôbre o cow-boy"...

Saiba mais sobre esta publicação na ficha preparada por Jorge Mangorrinha, e que pode ler aqui.

     
     
 

Cine, editada em Lisboa no ano de 1934, em apenas 3 números (que pode consultar aqui), dirigida por António Fagim, é mais um título que reflete a viragem sofrida, nos anos 30, no universo cinematográfico português. Em editorial, a revista apela ao "definitivo estabelecimento da indústria", identifica e denuncia problemas, mas crê na existência de "novos que se sentem com coragem e têm habilitações suficientes para trabalhar".

Propriedade da Editora Cinematográfica, que em paralelo era produtora de fonofilmes (filmes de complemento, jornais sonoros e documentários), os conteúdos da revista saldam-se naturalmente num equilíbrio entre as notícias do estrangeiro e as do país, cumprindo desta forma o seu propósito de ser um meio de "divulgação e de cultura que ensine e que recreio, educando o público" e "um baluarte dos que trabalham em prol do cinema".

Estes e outros aspetos são abordados na ficha histórica da publicação, da autoria de Jorge Mangorrinha, e que pode ler aqui.