NOVAS CARTAS PORTUGUESAS
Maria Isabel Barreno
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa


F
oi editado, em Abril de 1972, pela Estúdios Cor, dirigida por Natália Correia. Pouco tempo depois, em Junho, a censura “catalogou” a obra como imoral e o livro foi proibido e expurgado das livrarias. As autoras e o editor, Romeu de Melo, foram incriminados e levados a tribunal. O caso só terminou depois da revolução de 25 de Abril de 1974. Nessa altura, já era um “best-seller” dentro e fora de fronteiras.

 

Novas Cartas Portuguesas, “ou de como Maina Mendes pôs ambas as mãos sobre o corpo e deu um pontapé no cu dos outros legítimos superiores”. O epigrama não figura na capa do livro, nem poderia. Mas consta na página de título adicional e anuncia e clarifica a natureza do livro, escrito a 3 mãos sob o compromisso, assumido pelas autoras, de nunca revelarem a autoria individual dos vários textos. Foi expressão de um ato de rebelião, um afrontar do poder e da ordem, protagonizado por uma voz feminina; logo, um exercício de intervenção e de afirmação; um manifesto para ressuscitar a voz das feministas portuguesas, formulado por via da sátira, da ironia. Presente no próprio conceito estético da obra, que parte de uma contradição entre a sua substância e a sua forma, aspeto realçado no resumo impresso na badana da capa: «Livro actualíssimo pela abordagem ousada da problemática feminina posta em termos radicais e incomplacentes para com a enferrujada maquinaria dos preconceitos ainda vigentes; mas ao mesmo tempo, tradicionalista, tanto quanto a sua estrutura epistolar vem repor a tradição da literatura feminina do século XVII, que teve por expoente Soror Mariana Alcoforado, cuja personalidade amorosa é o núcleo das metamorfoses psicológicas que se desenvolvem neste livro.»

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