É vastíssima a
obra de Jorge Borges de Macedo. Ao todo engloba
aproximadamente 400 títulos, ou talvez mais!
Destacamos aqui aqueles que, em nosso entender,
nos parecem incontornáveis e, por isso mesmo,
mais relevantes. Algumas destas obras constituem
verdadeiras traves-mestras da historiografia
portuguesa, a saber: a sua tese de licenciatura
A Situação Económica no Tempo de Pombal.
Alguns aspectos (1.ª edição, Porto, 1951),
ainda hoje de leitura obrigatória para o estudo
da realidade económica e social do Portugal
setecentista, juntamente com a tese de
doutoramento sobre Problemas de História da
Indústria Portuguesa no Século XVIII (1.ª
edição, Lisboa, 1963), “estudo que marcaria
profundamente a compreensão da indústria
portuguesa no século XVIII e início do século
XIX”;
O Bloqueio Continental. Economia e Guerra
Peninsular, 1803-1813 (Lisboa, 1962), pelo
alargamento do objecto de estudo a matérias até
aí muito pouco consideradas, como a história
militar; a reedição da História de Portugal,
de Luís Augusto Rebelo da Silva (Lisboa, 1971),
outro trabalho de referência e para o qual
Macedo escreveu uma notável introdução que
coloca aquele historiador oitocentista no
panorama cultural do liberalismo; a excelente
síntese que é o estudo Estrangeirados. Um
conceito a rever (Braga, 1974), “em que
relativiza o significado das posições dos
estrangeirados (e neste sentido se distancia da
tradição historiográfica que, retomando os
problemas colocados por esses autores, vai da
geração de 70 a António Sérgio, Jaime Cortesão e
Vitorino Magalhães Godinho”);
os trabalhos Um ano de luta pelo poder e a
sua interpretação n’Os Lusíadas (Lisboa,
1976) e Os Lusíadas e a História (Lisboa,
1979), que reflectem uma maior atenção da sua
obra aos aspectos culturais; o premiado
Alexandre Herculano. Polémica e Mensagem
(Lisboa, 1980); o livro Constantes da
História de Portugal (Lisboa, 1981); a
História Diplomática de Portugal. Constantes e
Linhas de Força (Lisboa, 1987), por muitos
considerada como uma das suas principais obras;
o estimulante ensaio que é Portugal, um
destino Histórico (Lisboa, 1990); a sua
colaboração para o Dicionário de História de
Portugal, de Joel Serrão, onde Macedo
publicou um importante conjunto de artigos, a
maior parte deles sobre temas centrais, como
“Nobreza”, “Burguesia”, “Absolutismo” e “Tratado
de Methuen”; e, por último, uma série de
estudos, menos conhecidos, mas dos mais
inovadores que escreveu, não só pelos problemas
que levantam como pelo carácter pioneiro, ou
polémico, das suas interpretações.
Notas caracterizadoras da sua
historiografia
Como principais
notas caracterizadoras da historiografia de
Macedo, temos: a) desde logo, a diversidade dos
temas tratados, pois tanto se debruça sobre a
problemática económica como sobre a sociedade, a
política, a tecnologia, a ciência, a filosofia,
a arte, a religião, entre outras temáticas, num
entendimento da história como disciplina que
trata a globalidade da experiência humana
passada; b) a preferência pela inovação,
presente em quase todos os estudos do autor, em
detrimento dos caminhos já explorados; c) desta
última, resulta o esforço persistente para
contrariar ideias-feitas sobre alguns problemas
fulcrais da História de Portugal; d) a sua
adesão “à história-problema, à teorização e ao
elemento explicativo-superador da mera
descrição”,
sempre suportada pela própria análise histórica,
no quadro do que designava por “formalização
concreta”;
e) a adopção de uma perspectiva aberta aos
vectores políticos, socioeconómicos e culturais,
procurando um quadro histórico matizado em vez
das leituras estritamente políticas e
diplomáticas que nos habituaram muitos anos de
historiografia positivista; f) do ponto de vista
metodológico, importa destacar tanto o recurso a
fontes de diversos tipos e pouco utilizadas como
o recurso a historiografia de várias origens,
nomeadamente anglo-saxónica;
g) o interesse por algumas das tendências
historiográficas mais recentes, como a Nova
História Económica ou a Arqueologia Industrial,
por si teorizadas e divulgadas a outros
historiadores e estudantes.
Tudo isto
contribuiu para que Jorge Borges de Macedo,
juntamente com outros historiadores, como
Vitorino Magalhães Godinho, Virgínia Rau,
Fernando Piteira Santos, Joel Serrão, Armando de
Castro e Oliveira Marques, tivesse um papel
fundamental, para não dizer primordial, na
renovação que a historiografia portuguesa
conheceu a partir dos anos 50, nomeadamente a
história económica e social.
A sua acção centrou-se sobretudo no século XVIII,
propondo uma nova interpretação económica da
governação pombalina, examinando extensamente as
condições internas e externas para o
desenvolvimento da indústria portuguesa no
século XVIII e início do século XIX e, como já
se disse, refutando algumas ideias-feitas sobre
este período, como, por exemplo, as ideias de
que as relações com a Inglaterra durante o
século XVIII configuravam uma situação de
dependência altamente prejudicial ao crescimento
económico do país ou de que fora Pombal quem
sacudira o jugo inglês e criara do nada a
indústria em Portugal.
Ver bibliografia passiva
Texto de Álvaro
Costa de Matos
Álvaro Ferreira da Silva,
“História Económica”, in
Dicionário de História de Portugal
(Coord. de António Barreto e Maria
Filomena Mónica), Vol. VIII, Supl. F/O,
1.ª Edição, Lisboa, Livraria
Figueirinhas, 1999, pp. 181.
Sobre o contributo destes historiadores
para a renovação da historiografia
portuguesa, ver José Amado Mendes,
Op. Cit., pp. 277-343, e
ainda as entradas de Carlos
Maurício e Álvaro Ferreira da Silva para
os últimos volumes do Dicionário
de História de Portugal,
respectivamente “História – Da
consolidação da história metódica à
lenta renovação do pós-guerra”, in
Dicionário de História de Portugal
(Coord. de António Barreto e Maria
Filomena Mónica), Vol. VIII, Supl. F/O,
1.ª Edição, Lisboa, Livraria
Figueirinhas, 1999, pp.172-177, e
“História Económica”, Ibidem,
pp. 180-183. Sobre Macedo, em
particular, ver, além destes textos, a
entrada de Nuno Valério para o
Dicionário de História do Estado Novo
(Dir. de Fernando Rosas e J. M.
Brandão de Brito), Vol. II, Lisboa,
Circulo de Leitores, 1996, p. 534, bem
como a de Jorge Pedreira, já aqui
citada, p.405.
Adaptado de Álvaro Costa de Matos, “A
Ideia de Europa em Jorge Borges de
Macedo: constantes e linhas de força”,
in Jorge Braga de Macedo (Org.) -
Jorge Borges de Macedo: Saber Continuar.
A Experiência Histórica Contemporânea.
Comemorações do Legado Bibliográfico,
Colecção Biblioteca Diplomática do MNE –
Série A, s.l., IDI – MNE, 2005, pp.
127-168.
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