Efemérides | Jorge Borges de Macedo (1921-1996) | Bibliografia activa essencial
 

É vastíssima a obra de Jorge Borges de Macedo. Ao todo engloba aproximadamente 400 títulos, ou talvez mais[1]! Destacamos aqui aqueles que, em nosso entender, nos parecem incontornáveis e, por isso mesmo, mais relevantes. Algumas destas obras constituem verdadeiras traves-mestras da historiografia portuguesa, a saber: a sua tese de licenciatura A Situação Económica no Tempo de Pombal. Alguns aspectos (1.ª edição, Porto, 1951), ainda hoje de leitura obrigatória para o estudo da realidade económica e social do Portugal setecentista, juntamente com a tese de doutoramento sobre Problemas de História da Indústria Portuguesa no Século XVIII (1.ª edição, Lisboa, 1963), “estudo que marcaria profundamente a compreensão da indústria portuguesa no século XVIII e início do século XIX”[2]; O Bloqueio Continental. Economia e Guerra Peninsular, 1803-1813 (Lisboa, 1962), pelo alargamento do objecto de estudo a matérias até aí muito pouco consideradas, como a história militar; a reedição da História de Portugal, de Luís Augusto Rebelo da Silva (Lisboa, 1971), outro trabalho de referência e para o qual Macedo escreveu uma notável introdução que coloca aquele historiador oitocentista no panorama cultural do liberalismo; a excelente síntese que é o estudo Estrangeirados. Um conceito a rever (Braga, 1974), “em que relativiza o significado das posições dos estrangeirados (e neste sentido se distancia da tradição historiográfica que, retomando os problemas colocados por esses autores, vai da geração de 70 a António Sérgio, Jaime Cortesão e Vitorino Magalhães Godinho”)[3]; os trabalhos Um ano de luta pelo poder e a sua interpretação n’Os Lusíadas (Lisboa, 1976) e Os Lusíadas e a História (Lisboa, 1979), que reflectem uma maior atenção da sua obra aos aspectos culturais; o premiado Alexandre Herculano. Polémica e Mensagem (Lisboa, 1980); o livro Constantes da História de Portugal (Lisboa, 1981); a História Diplomática de Portugal. Constantes e Linhas de Força (Lisboa, 1987), por muitos considerada como uma das suas principais obras; o estimulante ensaio que é Portugal, um destino Histórico (Lisboa, 1990); a sua colaboração para o Dicionário de História de Portugal, de Joel Serrão, onde Macedo publicou um importante conjunto de artigos, a maior parte deles sobre temas centrais, como “Nobreza”, “Burguesia”, “Absolutismo” e “Tratado de Methuen”; e, por último, uma série de estudos, menos conhecidos, mas dos mais inovadores que escreveu, não só pelos problemas que levantam como pelo carácter pioneiro, ou polémico, das suas interpretações[4].

Notas caracterizadoras da sua historiografia     

Como principais notas caracterizadoras da historiografia de Macedo, temos: a) desde logo, a diversidade dos temas tratados, pois tanto se debruça sobre a problemática económica como sobre a sociedade, a política, a tecnologia, a ciência, a filosofia, a arte, a religião, entre outras temáticas, num entendimento da história como disciplina que trata a globalidade da experiência humana passada; b) a preferência pela inovação, presente em quase todos os estudos do autor, em detrimento dos caminhos já explorados; c) desta última, resulta o esforço persistente para contrariar ideias-feitas sobre alguns problemas fulcrais da História de Portugal; d) a sua adesão “à história-problema, à teorização e ao elemento explicativo-superador da mera descrição”[5], sempre suportada pela própria análise histórica, no quadro do que designava por “formalização concreta”[6]; e) a adopção de uma perspectiva aberta aos vectores políticos, socioeconómicos e culturais, procurando um quadro histórico matizado em vez das leituras estritamente políticas e diplomáticas que nos habituaram muitos anos de historiografia positivista; f) do ponto de vista metodológico, importa destacar tanto o recurso a fontes de diversos tipos e pouco utilizadas como o recurso a historiografia de várias origens, nomeadamente anglo-saxónica[7]; g) o interesse por algumas das tendências historiográficas mais recentes, como a Nova História Económica ou a Arqueologia Industrial, por si teorizadas e divulgadas a outros historiadores e estudantes.

Tudo isto contribuiu para que Jorge Borges de Macedo, juntamente com outros historiadores, como Vitorino Magalhães Godinho, Virgínia Rau, Fernando Piteira Santos, Joel Serrão, Armando de Castro e Oliveira Marques, tivesse um papel fundamental, para não dizer primordial, na renovação que a historiografia portuguesa conheceu a partir dos anos 50, nomeadamente a história económica e social[8]. A sua acção centrou-se sobretudo no século XVIII, propondo uma nova interpretação económica da governação pombalina, examinando extensamente as condições internas e externas para o desenvolvimento da indústria portuguesa no século XVIII e início do século XIX e, como já se disse, refutando algumas ideias-feitas sobre este período, como, por exemplo, as ideias de que as relações com a Inglaterra durante o século XVIII configuravam uma situação de dependência altamente prejudicial ao crescimento económico do país ou de que fora Pombal quem sacudira o jugo inglês e criara do nada a indústria em Portugal.

Ver bibliografia passiva

Texto de Álvaro Costa de Matos[9]


[1] A bibliografia activa mais completa de Jorge Borges de Macedo encontra-se no livro Jorge Borges de Macedo - Itinerário de uma vida pública, cultural e científica, Col. Grandes Mestres, Lisboa, Edições Colibri, 1991. No anexo ao Elogio do Professor Doutor Jorge Borges de Macedo (1921-1996), da autoria de Maria do Rosário Themudo Barata, encontramos uma actualização, da maior utilidade, daquela bibliografia, com mais 67 escritos publicados depois de 1991.

[2] Álvaro Ferreira da Silva, “História Económica”, in Dicionário de História de Portugal (Coord. de António Barreto e Maria Filomena Mónica), Vol. VIII, Supl. F/O, 1.ª Edição, Lisboa, Livraria Figueirinhas, 1999, pp. 181.

[3] Jorge Pedreira, “Macedo, Jorge Borges de (Lisboa, 3-3-1921 – Lisboa, 1996)”, in Dicionário de História de Portugal (Coord. de António Barreto e Maria Filomena Mónica), Vol. VIII, Supl. F/O, 1.ª Edição, Lisboa, Livraria Figueirinhas, 1999, p. 406.

[4] Estão neste caso os artigos “O aparecimento em Portugal do conceito de programa político”, in Revista Portuguesa de História, Tomo XIII, Coimbra, 1971, pp. 375-423; “Para o encontro de uma dinâmica concreta da sociedade portuguesa, 1820-1836”, in Revista Portuguesa de História, Tomo XVII, Coimbra, 1977, pp. 245-62; “A problemática tecnológica no processo de continuidade República – Ditadura Militar – Estado Novo”, in Economia, Vol. III, n.º 3, Lisboa, Outubro de 1979, pp. 427-453; “Para um estudo estrutural dos movimentos revolucionários portugueses: ensaio de formalização concreta”, in Estudos Portugueses. Homenagem a António José Saraiva, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua portuguesa, 1990, pp. 193-213, entre outros.

[5] José Amado Mendes, “A renovação da Historiografia portuguesa”, in Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, e Fernando Catroga, História da História em Portugal (séculos XIX-XX), s.l., Círculo de Leitores, imp. 1996, p. 298.

[6] Adesão esta facilitada, sem dúvida, pela sua licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas.

[7] No que toca às fontes, o resultado deste recurso traduziu-se na constituição de um legado bibliográfico impressionante, quer pela qualidade quer pelo volume, como se pode constatar folheando a obra Professor Doutor Jorge Borges de Macedo. Legado Bibliográfico, em 2 grossos volumes, num total de 17433 rubricas, e que mesmo assim não representa a totalidade da biblioteca pessoal do historiador. Este legado traduz ainda outra coisa, que é a importância da revelação da prova na obra de Jorge Borges de Macedo, que se pode notar também no seu espólio pessoal. Como nos diz Maria do Rosário Themudo Barata, “desde muito cedo (Jorge Borges de Macedo), foi recolhendo testemunhos de pessoas, factos, sonhos, ilusões, dramas, encontros e desencontros, num esforço de resgate do esquecimento, do aniquilamento que, segundo, o próprio, são pecados centrais da cultura portuguesa e causa das descontinuidades que mutilam e embargam todo o esforço criador, individual e colectivo” - do Prefácio à obra acima referida, p. XVI. Quanto à historiografia, mostra-nos um historiador que quer estar sempre actualizado, sempre à frente, cientificamente falando, como podemos testemunhar nas aulas de licenciatura e mestrado e o seu legado bibliográfico confirma. A predominância da historiografia anglo-saxónica resulta de uma especial atenção com que o historiador seguia os debates desta cultura, quantas vezes antes da sua efectiva recepção na cultura portuguesa.

[8] Sobre o contributo destes historiadores para a renovação da historiografia portuguesa, ver José Amado Mendes, Op. Cit., pp. 277-343, e ainda as entradas de Carlos Maurício e Álvaro Ferreira da Silva para os últimos volumes do Dicionário de História de Portugal, respectivamente “História – Da consolidação da história metódica à lenta renovação do pós-guerra”, in Dicionário de História de Portugal (Coord. de António Barreto e Maria Filomena Mónica), Vol. VIII, Supl. F/O, 1.ª Edição, Lisboa, Livraria Figueirinhas, 1999, pp.172-177, e “História Económica”, Ibidem, pp. 180-183. Sobre Macedo, em particular, ver, além destes textos, a entrada de Nuno Valério para o Dicionário de História do Estado Novo (Dir. de Fernando Rosas e J. M. Brandão de Brito), Vol. II, Lisboa, Circulo de Leitores, 1996, p. 534, bem como a de Jorge Pedreira, já aqui citada, p.405.

[9] Adaptado de Álvaro Costa de Matos, “A Ideia de Europa em Jorge Borges de Macedo: constantes e linhas de força”, in Jorge Braga de Macedo (Org.) - Jorge Borges de Macedo: Saber Continuar. A Experiência Histórica Contemporânea. Comemorações do Legado Bibliográfico, Colecção Biblioteca Diplomática do MNE – Série A, s.l., IDI – MNE, 2005, pp. 127-168.


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