Efemérides | Jorge Borges de Macedo (1921-1996) | Obra ensaística

 

Além de historiador, professor e académico de renome nacional e internacional Jorge Borges Macedo foi ainda um notável e polémico ensaísta, alicerçando esta faceta num sólido conhecimento do passado e do presente, o que lhe permitia, como já se disse, desmontar facilmente ideias-feitas e lugares comuns. Da sua produção ensaística assume alguma preponderância a reflexão sobre a problemática europeia. Aliás, Macedo foi um dos historiadores portugueses que, a par da investigação histórica propriamente dita, mais reflectiu sobre a Europa e o papel de Portugal nessa mesma Europa. Ora vejamos: ainda em 1968 publicou “A cultura portuguesa no mundo contemporâneo: um problema geral”; nove anos depois, em 1977, saiu “Um desafio à cultura portuguesa”; em 1979, escreveu “Uma perspectiva histórica para a integração europeia”; no ano seguinte publicou “Aron é um pensador europeu”; em 1981, reflectiu sobre o “Mercado Comum. Uma experiência nova para Portugal”, texto que será reeditado dois anos depois; em 1985, escreveu “O contributo histórico de Portugal para a formação do património cultural europeu”; em 1986, debruçou-se sobre “A adesão de Portugal ao Mercado Comum: antecedentes históricos”, “O espírito da Europa” e ainda sobre “Portugal e a Europa. A responsabilidade política do desenvolvimento”, este último ainda reeditado em 86; o ano de 1987 foi bastante produtivo no que a esta temática diz respeito: publicou “O Atlântico Norte e os desafios do Sul – perspectiva histórica”, reeditado no ano seguinte e também em 1989, “Ensino e Cultura. Preparar o Desafio Comunitário”, “Europa: que geopolítica?”, “A Nação como instrumento e projecto de defesa”, “Política e Estratégia na relação Portugal-Espanha: um problema de hoje” e “Portugal na perspectiva estratégica europeia”; em 1988, acrescentou a esta bibliografia o trabalho “Hora portuguesa, hora europeia” e reuniu grande parte destes ensaios na obra Portugal-Europa para além da circunstância; em 1990, deu a estampa “A Europa como grandeza histórica”, “Portugal na nova distribuição das forças europeias” e “Portugal: um destino Histórico”; quatro anos depois, em 1994, numa tiragem particular de 200 exemplares, editou “A Experiência Histórica Contemporânea”, um brilhante ensaio sobre o sentido e o fim do último quartel do século XX sem esquecer a evolução política portuguesa entre 1974 e 1994; em 1996 ocupou-se da “União Europeia: uma experiência de política externa”[1].

O interesse pela temática europeia e sua história é indissociável do entendimento peculiar que Macedo tem da História. Isto é, para o autor, a história, neste caso, de Portugal, só ganhará sentido se situada num plano mais vasto, daí as inúmeras incursões pela história europeia e extra-europeia. E isto aplica-se, claro está, tanto à história de Portugal como à história de qualquer outro país. A problematização e a compreensão do nosso passado requerem a comparação com a história europeia e a inclusão dos factos concretos nas “possibilidades globais efectivas”[2]: partir do geral/abstracto para o particular/concreto e, uma vez tratado o particular/concreto, regressar ao geral com interpretações novas, enriquecendo-o. Qualquer trabalho histórico deve seguir esta lógica, começar sempre pelas tais “possibilidades globais efectivas”, “superiores aos factos concretos”. Este é um pressuposto teórico que atravessa toda a sua obra. O caso mais paradigmático do que se acaba de dizer encontra-se na História Diplomática de Portugal, onde a comparação com a realidade europeia e extra-europeia é uma constante. Esta condiciona o processus histórico português, mas também recebe dele vários elementos, sejam de natureza política e institucional, sejam de natureza económica e social, sejam ainda de natureza civilizacional. A realidade portuguesa é indissociável da evolução europeia e vice-versa. Há, portanto, uma interdependência que importa estudar, único caminho para compreender os factos que dela resultam[3].
 

Bibliografia do autor sobre a Europa

MACEDO, Jorge Borges de, “A Cultura Portuguesa no mundo contemporâneo: um problema geral”, in Boletim. Boletim Internacional da Cultura Portuguesa, Lisboa, n.º 4, 1968, pp. 345-346.

Idem, “Aron é um pensador europeu”, in Tempo. Semanário de Grande Informação. Liberal e Independente, Lisboa, Ano 6, n.º 290 (27 Nov. 1980), pp. 10-11.

Idem, “Mercado Comum. Uma experiência nova para Portugal”, in O Dia, Lisboa, Ano 6, n.º 1647 (10 Jun. 1981), Supl. pp. V-VI.

Idem, “Constantes da Cultura Portuguesa: uma problemática”, in A Tarde. Jornal Independente, S. 2, n.º 593 (23 Set. 1984), pp. 14-15.

Idem, “A adesão de Portugal ao Mercado Comum: antecedentes históricos”, in A Adesão de Portugal à C.E.E., Lisboa, Sociedade de Geografia de Lisboa, 1986, pp. 13-29.

Idem, “Ensino e Cultura. Preparar o Desafio Comunitário”, in Cadernos do IEP (Instituto de Estudos Políticos), Lisboa, N.º 1 (1.º Trim. 1987), pp. 67-68.

Idem, Portugal-Europa para além da circunstância, Col. Temas Portugueses, s.l., Imprensa Nacional-Casa da Moeda, imp. 1988.

Idem, “Hora portuguesa, hora europeia”, in Diário de Notícias, Lisboa, Ano 124, n.º 43417 (3 Fev. 1988), Supl. Descobrimentos, pp. V e XI.

Idem, “Comentário em forma de prefácio”, in Pedro Santana Lopes, Portugal e a Europa: Que Futuro?, s.l., s.e., 1989, pp. 3-9.

Idem, “A Europa como Grandeza Histórica”, in Corpo e Espírito da Europa. Europa. A Dimensão Ética, Lisboa, Editorial Verbo, 1990, pp. 15-29.

Idem, “Portugal na nova distribuição das forças europeias”, in Nação e Defesa, Lisboa, N.º 4 (Set. 1990), pp. 41-49.

Idem, “Portugal: um destino histórico”, in Primeiras Jornadas Académicas da Espanha e de Portugal. 25 a 27 de Maio de 1988, Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1990, pp.263-318.

Idem, A Experiência Histórica Contemporânea, Lisboa, 1994.

Idem, “União Europeia: uma experiência de política externa”, in Telo, António José (coord.), O Fim da Segunda Guerra Mundial e os Novos Rumos da Europa, Lisboa, Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa/Edições Cosmos, 1996, pp. 136-151.

Texto de Álvaro Costa de Matos[4]


[1] As referências bibliográficas completas encontram-se no fim deste texto.

[2] Jorge Borges de Macedo, Prefácio da segunda edição a Problemas de História da Indústria Portuguesa no século XVIII, Lisboa, Querco, 1982, p. 8.

[3] Como nos diz Jorge Braga de Macedo, seu pai “nunca se satisfez com visões parcelares, por mais rigorosas que parecesse a análise, nem com falsas sínteses”. Daí a importância que atribui à integridade, “como ponto original da vida e obra de meu pai”, in A herança de Jorge Borges de Macedo: Uma escolha familiar, p. 5. Ao lado desta, tínhamos ainda, segundo o filho, a pedagogia, o outro valor fundamental da herança de Jorge Borges de Macedo.

[4] Adaptado de Álvaro Costa de Matos, “A Ideia de Europa em Jorge Borges de Macedo: constantes e linhas de força”, in Jorge Braga de Macedo (Org.) - Jorge Borges de Macedo: Saber Continuar. A Experiência Histórica Contemporânea. Comemorações do Legado Bibliográfico, Colecção Biblioteca Diplomática do MNE – Série A, s.l., IDI – MNE, 2005, pp. 127-168.


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