Semanário ilustrado publicado, em Luanda, entre 19 de dezembro de 1959 e 1 de março de 1975. Na época do 25 de Abril de 1974, era dirigido por Hélder Duarte de Almeida, tendo João Fernandes como diretor-adjunto e, como principais redatores, António Gonçalves e Beltrão Coelho (chefes de redação) e, ainda, Moutinho Pereira, Fernando Farinha, Manuela Gonzaga, Jaime Moreira, Ventura Martins, Alberto Florindo e Ilídio Alves, para além dos repórteres fotográficos António Cruz e Lucas de Sousa. Era impresso na Neográfica (Luanda), também proprietária. Como subtítulo, ainda ostentava: “jornal de João Charulla de Azevedo”, em memória do seu primeiro editor e diretor, uma das figuras políticas mais mediáticas na vida desta antiga colónia portuguesa, durante a década de 1960, jornalista combativo, falecido prematuramente com 34 anos (1967). A edição de 27 de abril de 1974 refere-se ao “Golpe Militar em Lisboa – a nossa posição –” ostentando um carimbo na capa, sobre o corpo esbelto de uma figura feminina, e 7 páginas de um encarte extra no final da edição. A meio desta, um artigo sobre os filmes de Walt Disney parece dar o mote: “O sonho real”! Efetivamente, o Golpe Militar terá concretizado o sonho de muitos portugueses, mas para o diretor-adjunto “tudo continua duma cristalina limpeza…”. À hora de escrever essas páginas, João Fernandes informava: “Aguardar com serenidade e ouvir com inteligência”. Esta posição era complementada com a convicção de que o futuro de Angola deveria passar pelos “que aqui labutam”. De seguida, são descritos os factos passados em Luanda, durante o dia 25 de Abril, desde as 10 horas da manhã (hora local), em que aí começaram a circular os primeiros rumores, até às 21 horas, em que as estações de rádio (Rádio Clube de Angola e Emissora Católica de Angola) difundiram as primeiras notícias oficiais, sublinhando-se a Proclamação da Junta de Salvação Nacional. Aqui ainda se falava em garantir “a sobrevivência da Nação, como Pátria soberana no seu todo pluricontinental”. Durante todo o dia, nas ruas, nos serviços governativos e administrativos e nos quartéis de Luanda a vida continuou normalmente. O número seguinte já confirmava: “O País mudou de rumo”. O perfil de Spínola é a imagem de capa. No interior os artigos de opinião antecedem uma extensa reportagem, muito ilustrada por fotos que acabaram por sair noutros periódicos de Lisboa e contendo, também, as reproduções de algumas páginas de periódicos estrangeiros. Seguem-se as opiniões acerca da liberdade de imprensa, a auscultação pública sobre os acontecimentos e uma pergunta, “Que Revolução é esta?”, colocada em aberto pela redação, sublinhando o que viram os repórteres enviados a Lisboa, António Gonçalves e Eduardo Baião. Nesta edição, já Hélder Duarte de Almeida dera o lugar de diretor a João Fernandes e se dá conta do regresso a Lisboa de Fernando Santos e Castro, Governador-Geral de Angola, de quem Notícia elogia a sua relação com o jornal, face às duras censuras que anteriores governadores terão imposto. À mudança constatada nesta edição, segue-se, no número seguinte, a pergunta: “Angola: para onde vamos?”, com uma imagem de júbilo do povo no 1.º de Maio, em Lisboa. A esperança numa solução de “pátria pluricontinental” ainda se mantinha: “Admitimos porém que poderemos delegar, até com vantagem, em alguns mais experimentados políticos metropolitanos a defesa dos nossos interesses. O que não poderemos delegar é a presença na Assembleia Nacional. Quantos lugares estarão reservados a Angola?”. No interior, João Fernandes avisa: “Passou o tempo de falar de liberdade. Chegou o tempo de passar a exercê-la.”

Jorge Mangorrinha
Hemeroteca Municipal de Lisboa

 
     
  Números disponibilizados na Hemeroteca Digital: 751 (27 de Abr. 1974) a 753 (11 de Mai. 1974)