A exposição será organizada em três núcleos temáticos (política
nacional, política internacional e Lisboa), e conta com desenhos e
caricaturas da autoria de Alonso, Stuart, Colaço, Natalino, Silva
Monteiro, Américo e Pargana. Através dos cortes às versões iniciais
propostas pelos ilustradores, e da comparação com as páginas finais,
é possível descortinar os resultados do controlo do Estado sobre o
discurso humorístico e gráfico veiculado por este jornal, por outras
palavras, sobre a liberdade de expressão, aqui essencialmente
plástica – razões de sobra para não perder esta exposição. É comissariada por Álvaro Costa de Matos (Hemeroteca Municipal de
Lisboa) e Pedro Bebiano Braga (Museu Rafael Bordalo Pinheiro).
A exposição manter-se-á em
exibição na Bedeteca até 31 de Dezembro.
O material exposto faz parte da colecção da Hemeroteca Municipal de
Lisboa e constitui uma fonte da maior importância patrimonial e
histórica, que nunca foi objecto de um estudo sistemático. São
documentos bem reveladores dos objectivos e especificidades da censura
sobre a imprensa, neste caso, sobre um jornal humorístico, bem como das
estratégias e respostas dos jornais, muitas delas subtis, para contornar
a acção do famoso lápis azul. Com esta exposição e toda a programação
subsequente, as duas bibliotecas pretendem precisamente despertar o
interesse dos seus públicos e do público em geral para este espólio, e
promover a sua primeira abordagem. Além da disponibilização de conteúdos
digitais, no sítio das BLX e da Hemeroteca Municipal, está prevista a
realização de visitas guiadas, ateliers e um debate.
Refira-se que Os Ridículos começaram a publicar-se em Lisboa em
1895, por iniciativa e sob a direcção de José Maria da Cruz Moreira, o “Caracoles”.
Dois anos mais tarde, em Setembro de 1897, a direcção é assumida por “Auto-Nito”,
outro humorista muito popular na época. Apesar do entusiasmo inicial, a
suspensão foi inevitável devido à forte concorrência entre os jornais
humorísticos e ao elevado analfabetismo existente no país. Oito anos
depois, em 1905, “Caracoles” pega novamente no jornal e, juntamente com
“Esculápio” (Eduardo Fernandes), reedita Os Ridículos, aproveitando
agora a oportunidade que lhes oferecia a efervescência política que
precedeu a implantação da República. A partir de 1906, já sem a
colaboração de Eduardo Fernandes, o jornal conhece então uma fase de
franco desenvolvimento, enveredando pela crítica política e pela sátira
aos acontecimentos dominantes da época; os seus jocosos comentários
granjearam-lhe uma popularidade e uma notoriedade que se manteriam
praticamente até ao fim do jornal, em 1984. Entre os seus colaboradores
destacam-se Alonso (Santos Silva), Colaço, Silva Monteiro,
José Pargana,
Stuart de Carvalhais e Natalino Malquiades, no desenho humorístico e na
caricatura política, enquanto os textos eram assegurados por Gamalhães
(Xavier de Magalhães), Sousa Pinto, Aníbal Nazaré, Nelson de Barros,
Borges de Antão, Casimiro Godinho, entre outros. A par do Sempre
Fixe
foi, sem dúvida, um dos mais importantes e mais duradoiros jornais
humorísticos publicados em Portugal no século XX.
Para mais informações consulte o
programa aqui. |